Por Werner Vogels, CTO da Amazon
A gestão de catástrofes está prestes a sofrer uma transformação radical. Em 2025, a resiliência face a desastres vai ser fundamentalmente transformada através do poder dos dados hiperlocais, recolhidos pelas próprias comunidades. Esta mudança vai redefinir a sua gestão, e levar à passagem de um modelo reativo e centralizado para um que é proativo, descentralizado e conduzido pela comunidade.
Entre tufões e outros fenómenos meteorológicos extremos, a severidade e frequência dos desastres naturais estão a aumentar em todo o mundo. Nas zonas mais vulneráveis e isoladas, os sistemas de resposta a emergências enfrentam sérios desafios devido à dispersão e ao difícil acesso aos dados. Por exemplo, no sudeste dos Estados Unidos, recentemente devastado por furacões, as áreas interiores, tradicionalmente vistas como seguras, foram duramente atingidas e não tinham os seus recursos essenciais mapeados. Esta situação demonstra que, numa época de desastres cada vez mais frequentes, dados atualizados e acessíveis são cruciais.
Uma preparação eficaz para catástrofes implica dados – e a capacidade de os recolher e utilizar de forma estruturada e organizada. Embora os esforços de socorro centralizados tenham vantagens, pois conseguem mobilizar recursos em larga escala, frequentemente carecem da agilidade e do dinamismo necessários para uma resposta rápida.
Assistimos, hoje, a uma mudança em direção a plataformas centradas na comunidade que capacitam os indivíduos para que assumam o controlo da sua própria segurança. A omnipresença dos telemóveis possibilitam às comunidades a recolha de informação diversificada e no terreno. Durante as cheias de 2022 na Austrália, os residentes utilizaram redes sociais e folhas de cálculo Google para coordenar resgates – e conseguiram criar um ecossistema de dados improvisado. Estão a multiplicar-se as aplicações de caráter comunitário, como as dedicadas à vigilância de incêndios florestais (Watch Duty, entre outras), que capacitam os habitantes para comunicar situações em direto e orientar as equipas de resposta.
Estas ações de base local estão a converter-se em redes autónomas de resposta a crises. Os avanços na edge computing e na conectividade por satélite durante catástrofes permitem a captura e processamento de dados em tempo real, mesmo nas condições mais adversas. A evolução tecnológica em curso não visa apenas dados mais velozes – pretende, também, redistribuir o poder de decisão, e dar mais voz aos que são diretamente afetados. Desta forma, tanto equipas de emergência como habitantes locais podem aceder instantaneamente a informações práticas, e tomar decisões urgentes sem depender da ativação de sistemas centrais.
Assim, se os sistemas de comunicação convencionais falharem, os socorristas que vão para o terreno têm acesso a imagens de alta resolução e dados em tempo real.
Quando capacitamos as comunidades com dados e poder de decisão, fazemos mais do que melhorar a resposta a emergências – criamos uma rede de centros locais que reforçam a preparação para catástrofes. Com estes fenómenos a aumentar, passar de uma abordagem reativa para uma proativa, fundamentada em dados, deixou de ser opcional e tornou-se uma necessidade vital. Em última análise, um modelo orientado por dados e focado na comunidade cria um futuro em que a tecnologia fortalece a capacidade humana de adaptação. Assim, as comunidades podem enfrentar um mundo cada vez mais incerto com algum sentimento de independência e segurança.