Por Filipa Pantaleão, diretora técnica EGF (Environment Global Facilities)
Nos próximos 5 anos, Portugal deverá assistir a uma pequena revolução na recolha e no tratamento dos seus resíduos domésticos. Só assim será possível atingir as ambiciosas metas da Europa para a reciclagem. O herói da nossa revolução vai ser o contentor da tampa castanha – para os resíduos biodegradáveis. Ele vai entrar em grande estilo nas nossas cozinhas e nas nossas ruas e vai passar a ser o príncipe da reciclagem, com os seus irmãos amarelo, azul e verde a darem o pódio ao novo protagonista.
Se olharmos para a composição média do nosso caixote do lixo português vemos que cerca de 40% dos resíduos que lá colocamos são resíduos orgânicos: os restos de comida, as cascas da preparação dos alimentos, mas também os resíduos da manutenção dos nossos jardins privados e públicos. São a maior fatia dos nossos resíduos. Além de serem absolutamente recicláveis – na natureza, nada se perde, tudo se transforma – são extremamente ricos em carbono, em minerais e em matéria orgânica que a humanidade não pode dar-se ao luxo de desperdiçar.
[blockquote style=”2″]Nem sempre demos o devido valor aos nossos biorresíduos[/blockquote]
Infelizmente uma boa parte dos biorresíduos ainda vai parar a aterro ou incineração. Alguma parte era retirada dos resíduos indiferenciados para compostagem, mas essa solução não irá cumprir os novos critérios da União Europeia para que seja considerado efetiva reciclagem. No entanto, já tínhamos no país alguns exemplos de sucesso, como a recolha seletiva de biorresíduos em restaurantes e mercados da Grande Lisboa ou Viana do Castelo.
Num futuro próximo, todos os nossos biorresíduos têm de estar a ser separados do restante lixo. Ou seja, o caixote dos biorresíduos passará a ser o caixote principal das nossas cozinhas e teremos de encontrar um novo caixote para o pouco que sobra depois de separarmos todas as embalagens e todos os orgânicos. Na rua, o caixote cinzento ou verde escuro passará a ser menor e passaremos a chamar-lhe o caixote do resto. O objetivo da economia circular é que um dia, tudo seja separável e reciclável por alguma via e que este caixote do resto esteja praticamente vazio.
Novo herói da reciclagem
O que será feito com estes biorresíduos? Serão enviados para estações de compostagem, onde iremos acelerar o processo de decomposição natural destes materiais, podendo resultar num composto para a agricultura, mas também em biogás para usarmos como combustível ou em eletricidade ou noutros produtos. Há uma grande inovação nesta área, e surgirão novas tecnologias para dar o melhor uso possível a esta matéria orgânica.
Por isso, já sabe: pode não ser amanhã, pode não ser no próximo ano, mas brevemente o seu município vai estar a apresentar-lhe o contentor da tampa castanha e a dar-lhe novidades sobre a recolha. Convide-o a entrar na sua cozinha, dê-lhe o destaque que ele merece, e deixe-o passar a ser o novo herói da reciclagem.