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Desde que em 1997, houve 192 países a subscrever o Protocolo de Quioto, que se iniciaram oficialmente as Conferências Climáticas, (também conhecidas como COP – Conferência das Partes). Assistimos a várias COP’s subsequentes a Quioto, tendo a COP21 (Acordo de Paris) sido a mais relevante do ponto de vista do Ecosistema da Sustentabilidade*, e a de Glasgow (COP26 – Nov2021), a que obriga a uma reflexão profunda na gestão empresarial**.
- * Foi logo após o Acordo de Paris, que alguns grupos internacionais do setor hoteleiro começaram a avaliar a implementação de ações (envolvendo os seus stakeholders) com o intuito de reduzir as suas pegadas de carbono. Antes de levar a cabo essas iniciativas, o primeiro passo que estes grupos deram foi no sentido de MEDIR as suas emissões de CO2.
- ** O GFANZ (Glasgow Financial Alliance for Net Zero), formado pelas 450 entidades financeiras mundialmente mais relevantes, decidiram aderir ao movimento “Fit to 55” – que prevê 55% de redução das suas emissões de carbono até 2030.
Efectivamente, os principais Bancos e Seguradoras mundiais, que fazem parte do GFANZ, atravessam um processo de adaptação, que obriga a envolver todos os seus stakeholders, por forma a garantir que as emissões indirectas “upstream” e “downstream” serão medidas e reduzidas respectivamente pelas entidades emissoras (fornecedores e clientes).
Na prática, as entidades financeiras do GFANZ, não querem ser responsabilizadas por toda a pegada de carbono proveniente do Scope 3 do GHG Protocol (emissões indirectas que constam na metodologia mais reconhecida mundialmente de medição de CO2 – Green House Gases Protocol).
Por conseguinte, vão exercendo a sua magistratura de influência com o intuito de “convidar” fornecedores e clientes a medirem e reduzirem a sua pegada:
- impondo penalizações na análise de risco no processo de concessão de crédito, ou mesmo exclusão do mesmo, às Organizações suas clientes;
- exigindo-o às entidades potencialmente fornecedoras de bens e serviços, sob pena de não poderem candidatar-se.
Por efeito cascata, as exigências do GFANZ aos seus clientes, repercutemse nas organizações que estão a definir processos de exclusão de fornecedores que não tenham também incorporadas as atividades supra mencionadas: Medição, Redução e Compensação das emissões de GEE (Gases Efeito Estufa). E assim sucessivamente até que no limite, cada empresa apenas seja responsabilizada pelas emissões directas (Scope 1) e as que decorrem do consumo de eletricidade (Scope 2).
Fica evidenciada assim, a prioridade que todos os players do sector do turismo (hotéis, operadores, agências, etc) devem dar à implementação de medidas que os conduzam ao encontro deste novo paradigma empresarial, evitando serem excluídos do futuro próximo. Para que isso não aconteça, não podemos concentrar-nos no ponto de chegada (a meta do Net Zero), mas encontrar já um ponto de partida e um caminho claro para o sector, que deverá encontrar na sustentabilidade em grande escala, o seu porto seguro.
Foi neste enquadramento que foi criado, em 2017, o Sustainable Hospitality Alliance (SHA), que procura reunir grupos turísticos despertos para o fenómeno da sustentabilidade, e que tentam utilizar a sua força colectiva com o intuito de impactar a comunidade global.
O SHA exerce a sua atividade em 4 grandes áreas (Direitos Humanos, Emprego Jovem, Ação Climática e Gestão da Água), e conta já com 17 Grupos e 35.000 hotéis aderentes. Foi lançado igualmente o “Sustainability in Hospitality Panel” (em 2019), com o propósito de reunir regularmente um painel de 50 especialistas e líderes de opinião de todo o mundo, para gerar ideias de como o sector pode abordar os riscos e ameaças climáticas, bem como dar resposta a questões surgidas no âmago de ecossistema da Sustentabilidade.
Com os clientes cada vez mais conscientes e exigentes em relação às ações climáticas, as organizações têm de anticipar-se e dar uma resposta colectiva a essas exigências, incorporando alterações às suas políticas internas.
As emissões de carbono são uma realidade a que indústria do turismo (agora em processo de recuperação) tem de estar muito atenta e corrigir os seus comportamentos urgentemente. Sabendo que as emissões de CO2 do sector turístico aumentaram mais de 60% no período de 2005 a 2016, só resta, aos “players” do sector, darem um sinal claro do seu inconformismo com esta realidade e iniciarem o processo de inversão desta situação.
É indispensável medirem as suas emissões / pegada de carbono, definirem ações de redução da mesma e compensarem o que não conseguirem (ainda) reduzir.
O peso que os voos de avião têm na pegada de carbono e o grande crescimento deste modo de transporte; os consumos de água e eletricidade em hotéis, bem como os desperdícios de alimentação, são as principais ameaças a médio e longo prazo.
Num próximo artigo, abordaremos algumas formas de como impactar positivamente a sustentabilidade nos Hotéis.
[blockquote style=”3″]A Footprint Consulting é uma consultora portuguesa que surge com a missão de medir, reduzir e compensar a pegada de carbono das empresas e particulares. Com base nesta missão, Tiago Machado passa a integrar a nossa lista de cronistas com o objetivo de testemunhar aquela que tem sido a experiência relativa Às exigências e requisitos que têm sido colocadas às instituições e empresas no âmbito da medição das emissões de GEE. [/blockquote]