#Opinião: “Não desperdicemos 2024: Como as climatech startups podem apoiar o setor”
Por: Alexandra Lucke, Climatetech Expert na AWS
Em 2024 mantém-se o apelo à construção de um mundo mais sustentável e com maior consciência climática. E organizações como a Agência Internacional de Energia estão na expetativa de que a Inteligência Artificial (IA) e a Energia formem uma ‘dupla de peso’.
As empresas do setor privado procuram soluções net-zero, e os decisores políticos procuram criar um contexto que incentive soluções inovadoras e rápidas a entrar no mercado. Não se conseguirá dar resposta a ambos sem inovação, e essa vem sobretudo das chamadas climatech startups (como o nome indica, startups com o foco na inovação climática e sustentabilidade).
O ecossistema das climatech startups evoluiu muito nos últimos anos, e os investidores sabem disso. Durante o primeiro semestre de 2023, as climatechs angariaram um maior número de fundos do que qualquer outra área, mais de 32 mil milhões de dólares, enquanto outros setores sentiam uma quebra generalizada no investimento. Quem o diz são os dados da ClimateTech Venture Capital (CTVC), e Eric Gossard, partner da Serena Capital, que afirma que “a IA pode ser o segredo para, em 2024, se transformar o setor das climatech, com a inovação a impulsionar tudo, do sistema de gestão de redes à ciência dos materiais. Nós, assim como outros investidores, seguimos com entusiasmo a ‘nova dupla’ Climatetech – energia e IA, que acreditamos ser facilitadora para que várias indústrias atinjam os seus objetivos de sustentabilidade”.
É provável que este entusiasmo que suporta o financiamento se mantenha num futuro próximo, alimentado por soluções de sustentabilidade para a medição do CO2 na produção; redução de resíduos têxteis na indústria da moda; e controlo do desperdício alimentar.
Um excelente exemplo foi o investimento de 1.2 mil milhões de dólares (um dos maiores de 2023 na Europa) na sueca Northvolt (que produz baterias de iões de lítio). É este tipo de investimento que permite a expansão desta nova vaga de climatech startups.
Os Governos vão continuar a desempenhar um papel central. O Green Deal, ou Plano Industrial do Pacto Ecológico da UE, que impulsiona a competitividade da indústria net-zero, apoia ativamente a transição para a neutralidade climática. A Diretiva de Reporte de Sustentabilidade Corporativo da União Europeia, que entrou em vigor em 2023, exige que todas as grandes empresas cotadas (exceto as microempresas) divulguem riscos, oportunidades e impacto das suas políticas sociais e ambientais. Estas medidas, e há mais, criam oportunidades de inovação na tecnologia climática, de construção e desenvolvimento de ideias, que vão ao encontro dos requisitos específicos de cada setor.
O acesso das climatech startups a tecnologias de cloud computing, como a IA, machine learning e a análise de dados, a valores acessíveis, é essencial para manter uma inovação ‘fluída’ e cumprir com os objetivos net-zero europeus. A análise de dados, o rastreio de carbono e a redução de resíduos é um movimento que já está a acontecer em todo o continente.
A CropX, que fornece soluções de software na cloud, está a apoiar o setor agrícola para que maximize o seu potencial de rendimento e a minimize o desperdício de recursos. Com a utilização de uma solução AWS, estão a ser captados no solo dados de milhares de sensores, que são enviados para uma plataforma centralizada. A CropX forneceu cerca de 8500 sensores IoT, a mais de 1200 clientes, o que possibilitou avaliar o potencial dos solos e atingir poupanças de água superiores a 40% em diferentes tipos de culturas, e em paralelo, aumentar a produção em 10%.
As grandes empresas, através de parcerias e financiamento de climatech startups, podem reduzir os seus custos em investigação e desenvolvimento (I&D) e, ainda assim criar soluções personalizadas para as suas empresas ou setores. As startups, por sua vez, podem impulsionar a inovação ao extravasar modelos para diversos setores que procuram soluções climáticas semelhantes.
Em 2023, a Amazon Web Services (AWS) firmou uma parceria com o Centro Internacional de Investigação sobre Inteligência Artificial (IRCAI) da ONU, para o lançamento um programa global e pioneiro de bolsas de investigação neste domínio. É um programa gratuito para ajudar startups e outros empreendedores a desenvolverem ideias e projetos em torno das alterações climáticas. Duas das ferramentas utilizadas são a computação avançada em cloud e o recurso à IA.
Nunca teremos demasiados aceleradores para salvar o planeta. E nem todos os que têm boas soluções para ajudar a resolver a crise provocada pelas alterações climáticas têm acesso a tecnologia ou financiamento. Programas como os da AWS, de aceleração de startups geridas por mulheres em IA, ou de apoio ao desenvolvimento de tecnologia climática, tentam preencher esta lacuna. A Senstile, uma startup espanhola detida por mulheres, e que utiliza a IA para reduzir os resíduos têxteis, teve acesso a ferramentas técnicas e de negócio, que a ajudaram a melhorar os seus produtos, apresentá-los a investidores e criar estratégias mais rápidas de entrada no mercado.
Quantas mais grandes empresas se mobilizarem para apoiar startups, mais estas multiplicarão os seus projetos de inovação, que são essenciais para impulsionar o apoio a medidas de mitigação e combate às alterações climáticas globais.