#Opinião: Mudar mentalidades ambientais com o Nudge
Muitos são os planos e ações para mitigar as alterações climáticas. São cada vez mais frequentes os seus efeitos extremos como ondas de calor, cheias provocadas por chuva intensa e fora de época, ciclones e outros fatores de instabilidade climática que afetam a Economia Natural, nomeadamente os solos e os recursos hídricos de qualidade.
Mas será que a generalidade dos nossos amigos e conhecidos, aqueles que não leem a Ambiente Magazine, já se aperceberam de tudo isso?!! Estará a população em geral disponível para alterar os seus hábitos socioculturais e níveis de conforto em prol do necessário reequilíbrio do Planeta e atingir as metas do Acordo de Paris e a “Net Zero Emissions” que Bill Gates tão bem descreveu no seu livro “Como evitar um Desastre Climático”.
Para fortalecer este movimento, essencial para as comunidades e para o nosso planeta, em primeiro lugar temos de saber continuar a comunicar, aproveitar todas as oportunidades para mostrar caminhos e soluções que exigem uma transformação de comportamentos e hábitos.
Neste contexto, o “Nudge” pode ser uma das ferramentas que permite melhores resultados, assumindo-se de uma forma descomplicada como “qualquer aspeto da arquitetura de escolha que altera o comportamento de pessoas numa direção prevista, sem coação ou proibição de qualquer opção ou alteração significativa dos seus incentivos económicos”, usando a definição dos seus impulsionadores, Richard Thaler e Cass Sunstein[1].
A fileira do ambiente é talvez um dos setores que mais tem usado as técnicas de Nudge para, através do choque e de mexer com o nosso “eu”, mudar mentalidades e comportamentos.
É através da soma de pequenas mudanças comportamentais que se atinge a diferença pelas alterações climáticas, evitando o tendencial aumento da temperatura média no planeta que terá consequências devastadoras, entre outras, através da subida do nível médio das águas costeiras e do stress hídrico – que são já uma realidade atual.
Podem existir leis, multas, impostos e taxas mas, no fim do dia, estamos sempre dependentes do comportamento individual de cada um de nós. Empurrões e impulsos para a escolha de comportamentos certeiros… precisam-se! É aí que deve entrar o Nudge… Com todas as suas vantagens visto que têm um custo reduzido, podem produzir resultados de comportamento económico quase imediatos e mantêm a liberdade de escolha.
Esta realidade não é nova! Com certeza, todos os que a idade permita, se recordam da campanha, no início deste século, da Sociedade Ponto Verde onde o chimpanzé “Gervásio” separa com êxito todas as linhas de resíduos, confrontando a inércia de aprendizagem da população ao afirmar: “quanto tempo mais precisa você para separar o seu lixo”. Talvez esta tenha sido uma das primeiras campanhas publicitárias relacionadas com o ambiente que chocou a população e que, realmente, teve efeitos na mudança de hábitos dos portugueses e usou técnicas de nudge, ainda antes da sua divulgação.
A comunicação inteligente dos temas ambientais é um caminho que temos de percorrer coletivamente, recorrendo a ferramentas como o Nudge, para estimular a estrutura social da nossa comunidade e leva-la a questionar, por exemplo, se a rega agrícola, de espaços verdes ou a lavagem de ruas deve continuar a ser com água potável ou se a água depois de tratada não deveria ser reaproveitada para estes usos não potáveis em vez de ser “rejeitada” com qualidade para rios e mar – sim, isso acontece com 98,4% da água residual tratada.
[1] Pode desenvolver o conceito e ver vários exemplos de múltiplas áreas no livro (versão em português): “Nudge – um pequeno empurrão. Como decidir melhor em questões de saúde, riqueza e felicidade” de Richard Thaler e Cass Sunstein.
[blockquote style=”3″]Hugo Xambre é o novo cronista da Ambiente Magazine.Todos os meses, o vice-presidente Executivo do Conselho de Administração das Águas do Tejo Atlântico dará o seu testemunho sobre a atualidade no mundo do ambiente.[/blockquote]