#Opinião: Dia da Floresta autóctone – Lembrar e Agir
Por: Anabela Pereira, gestora de projetos da ASPEA, bióloga e educadora ambiental.
Neste dia 23 de novembro celebramos a Floresta autóctone portuguesa por duas grandes razões: para investir numa gestão eficiente da floresta nativa e porque é importante que todos os cidadãos conheçam e reconheçam a verdadeira floresta portuguesa, que não é aquela que temos hoje em grande parte do território!
Durante séculos, a sobre-exploração da nossa floresta fez-se de tal forma que deixámos de manter o vínculo com a diversidade ecológica que a caracteriza. Interesses económicos aliados à produção florestal foram, posteriormente, instalando-se e transformando as áreas florestais originais em monoculturas de produção que contribuíram para o nosso afastamento dos bosques e das florestas.
Uma grande parte da nossa área original de floresta é hoje um sistema intensivo de produção de espécies florestais exóticas, ao qual, na verdade, não podemos atribuir a designação de floresta, nem a considerar como tal.
Cabe, assim, a todas as entidades educativas, formais e não formais, bem como a todo o cidadão ambientalmente responsável, dar a conhecer a floresta autóctone portuguesa e o seu valor ambiental como spot de biodiversidade de uma das áreas biogeográficas mais biodiversas a nível mundial.
Para além das espécies mediterrânicas, também existem dezenas de outras de clima atlântico, que resultam num misto de ambientes e particularidades biológicas únicas, como o comprovam as várias dezenas de endemismos biológicos presentes no nosso território.
De norte a sul de Portugal é possível observarmos diferentes tipos de carvalhais, que outrora ocuparam todo o nosso território. No Norte Litoral estão presentes os carvalhais de carvalho comum e no norte interior os de carvalho negral, de sobreiro e de azinheira; no centro os carvalhais de carvalho cerquinho e a sul grandes extensões de montado, sobreirais e azinhais.
Todos estes ecossistemas agregam biodiversidades muito elevadas e encontram-se perfeitamente adaptados às diferentes condições climatéricas em que se inserem. Ao longo dos tempos constituíram fonte de recursos e foram a base da sobrevivência e prosperidade de muitos povos e gerações.
Hoje, urge readquirirmos a ligação com a nossa “floresta mãe” e resgatarmos os usos e valores económicos de outrora, renovados à luz das novas demandas e conhecimentos científicos e tecnológicos, permitindo simultaneamente a exploração económica a ela associada e a manutenção do seu delicado equilíbrio ecológico.
Muitas são as ameaças que empobrecem cada vez mais a nossa floresta, pondo em risco a nossa biodiversidade mediterrânica, desde a invasão pelo eucalipto em regime de monocultura, ao abandono pelas populações rurais, às alterações climáticas e aos incêndios cada vez mais devastadores, fruto do nosso desinteresse generalizado e passividade face aos interesses e liberdade de atuação de grandes grupos económicos.
Que hoje e todos os dias possamos lembrar a nossa floresta e todo o seu potencial económico, turístico, de saúde e bem-estar e de mitigação das alterações climáticas e da desertificação que já assolam o nosso país. Assim devemos fazê-lo, pois as árvores e as florestas estão permanentemente presentes nas nossas vidas.
Poderemos fazer a diferença contemplando pequenas ações:
Diminuindo o consumo de papel; optando pelo papel de produção certificada com o selo FSC ou outros; optando pelos produtos autóctones; participando em ações de voluntariado ambiente nas florestas; utilizar regularmente a floresta para atividades de lazer e explorar os seus sabores.
Esta consciencialização ambiental é de importância fundamental e, a par com as iniciativas nacionais, os projetos internacionais têm um papel potenciador ao nível da partilha dos conhecimentos e da procura ativa das soluções ajustadas aos contextos locais.
Destaque-se, a este nível, o empenho da Associação Portuguesa de Educação Ambiental que tem vindo a reforçar a sua ação através da participação em projetos Erasmus+ de preservação e valorização da floresta portuguesa. O projeto Erasmus + Meet Your Forest desenvolvido pela ASPEA em parceria com Espanha, Noruega e Finlândia, é disso um bom exemplo, colocando em debate as boas práticas de gestão da floresta e a necessidade de valorização dos recursos autóctones, através da disponibilização de vários materiais pedagógicos disponíveis no site oficial do projeto.
Quaisquer que sejam as áreas de conhecimento de cada um, conhecer a floresta autóctone portuguesa, valorizá-la e dela usufruir é um dever e um direito de cada cidadão português.
Resgatar os nossos bosques e florestas será a chave do nosso sucesso enquanto comunidade consciente e ambientalmente responsável em benefício da qualidade de vida no nosso planeta.