Por: Filipa Oliveira, Sandrina Tralhão e Vanessa Biel, LEAP Consulting
Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo (Sérgio Godinho)
“Mas, se tu me cativares, passamos a ter necessidade um do outro.” (in O Principezinho)
No atual contexto empresarial, adotar práticas responsáveis e sustentáveis é imprescindível ao negócio. De forma irreversível. Por questões legais, financeiras e reputacionais. Assim, a integração de aspectos Ambientais, Sociais e de Governance (ESG) na gestão corporativa, destaca-se como um fator diferencial competitivo.
Num momento inicial, o processo de tornar uma empresa sustentável, para si própria e para o Mundo, poderá, eventualmente, ser sentido como uma proeza heróica, qual passagem pelo Cabo das Tormentas “Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor!” (Fernando Pessoa, in Mensagem). Assusta! Antecipar, no desconhecido, as coordenadas por navegar, os cais onde aportar, as culturas por conhecer…
Assim, diante tamanho desafio, o sucesso da viagem dependerá do bom planeamento e da melhor execução. Prezando, a cada momento, a boa qualidade da relação com os stakeholders de viagem. Ouvi-los, será remar no mesmo sentido. Com mais eficiência e eficácia. Com maior significado e adequação. E, então, sim, o Cabo das Tormentas vira Cabo da Boa Esperança.
A princípio é simples, anda-se sozinho (Sérgio Godinho)
E quem são os stakeholders desta viagem? São todos os agentes interessados e impactados, direta ou indiretamente, pelas operações de uma empresa ou que exercem influência sobre ela.
Podem ser internos, como colaboradores e acionistas, ou externos, como fornecedores, clientes, investidores, reguladores, organizações da sociedade civil, comunidades locais e comunicação social.
Cada grupo tem as suas preocupações e expectativas, pelo que o diálogo é sempre uma mais valia acrescida. É perceber de forma orgânica como as operações da empresa impactam os diferentes grupos. E como cada um deles perspetiva riscos e oportunidades.
Desta partilha resultam insights valiosos para repensar processos, desenvolver produtos mais sustentáveis ou, mesmo, para criar novos modelos de negócio. De ideia em ideia, vai delineando-se o desenvolvimento de uma estratégia ESG cirúrgica, sustentada, coesa e alinhada à realidade, o que permite um (re)direcionar de esforços para as áreas que realmente marcam a diferença.
Chamar os stakeholders para o centro do diálogo e da decisão fortalece, ainda, a confiança entre as partes.
E porque o envolvimento de stakeholders obriga à transparência nos processos, defender e implementar esta troca de sinergias reforça, também, a legitimidade da empresa.
Luta-se por tudo o que se leva a peito (Sergio Godinho)
Como já percebemos, anteriormente, a comunicação direta e regular com stakeholders é fundamental porque para além de ajudar a empresa a conhecer as suas fragilidades e oportunidades, de forma holística e mais detalhada, também inspira soluções inovadoras e práticas mais sustentáveis.
O envio de inquéritos de satisfação, participação em fóruns de partilha de conhecimento, utilização de plataformas digitais, newsletters, auditorias, atividades de team building e focus groups, são algumas das ferramentas que demonstram eficácia no conhecimento das percepções e das preocupações dos stakeholders. A inclusão de representantes das comunidades e de investidores em reuniões mais restritas são, também, estratégias bem sucedidas da comunicação transparente, individualizada e de proximidade.
Um canal de comunicação bem estruturado, agiliza a troca de informações, o conhecimento generalizado, transversal e atualizado.
Enfim de uma escolha faz-se um desafio (Sérgio Godinho)
Não obstante os benefícios detalhados, o envolvimento dos stakeholders apresenta, também, alguns desafios. As empresas podem enfrentar dificuldades, nomeadamente, em conseguir que os stakeholders se envolvam em profundidade, em gerir a informação, em equilibrar diferentes conflitos ou em lidar com expectativas irreais.
Para superar estes obstáculos, é fundamental que as empresas sejam claras sobre as suas prioridades e limitações, mantendo um diálogo honesto, realista e colaborativo.
Será, igualmente, prudente, balizar a conduta dos stakeholders aos princípios da própria organização, uma vez que gera alinhamento, segurança e confiança.
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida (Sérgio Godinho)
O diálogo contínuo com os stakeholders permite às empresas com Gestão ESG alinhar as suas ações com as questões sociais, ambientais e económicas, criar valor para todos os envolvidos, fortalecer a legitimidade e a reputação corporativa, impulsionar a inovação, reduzir o risco e promover as relações de longo prazo baseadas na confiança e fidelidade.
Num mundo cada vez mais interdependente e consciente, ouvir os stakeholders não é uma opção mas, antes, um imperativo estratégico. Um passo essencial para construir um futuro mais sustentável, justo, inclusivo e preparado.
Tic Tac! O futuro é já hoje!
[Este é o 2.º artigo de um roadmap rumo à sustentabilidade]
Leia aqui o 1.º…
#Opinião: Pasito a pasito rumo à sustentabilidade – Descomplicar a sustentabilidade nas empresas