Por João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática
Se fosse um verbo, a história do Hidrogénio em Portugal conjugava-se em torno de duas palavras: descarbonização e independência.
O nosso foi o primeiro país do mundo a assumir o objetivo de ser neutro em carbono em 2050. Atendendo aos ambiciosos objetivos de descarbonização já para 2030 – uma redução de 55% nas emissões de gases com efeito de estufa e uma quota de 47% de energias renováveis no consumo final bruto de energia –, a central elétrica a carvão de Sines foi encerrada este ano.
O ano de 2021 será decisivo para conduzir a economia europeia rumo à recuperação e ao crescimento, preparando-nos para o futuro através de uma dupla transição: verde e digital. No âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, esperamos concluir a negociação da Lei Europeia do Clima, consagrando a neutralidade climática e o objetivo ambicioso de redução de emissões, para 2030, de pelo menos 55% (em relação a 1990).
O hidrogénio irá desempenhar um papel crucial na descarbonização. Para atingir o seu potencial, é importante tornar o preço competitivo e criar um mercado, manter o investimento em investigação e inovação, desenvolver as infraestruturas essenciais e implementar medidas de certificação da sua origem. No seguimento do excelente trabalho realizado pela Presidência Alemã, Portugal esforçar-se-á por manter o hidrogénio como uma prioridade no sector energético.
Considerando as nossas vantagens estratégicas, estamos em boa posição para avançar com a sua produção à escala industrial: um porto de águas profundas bem equipado em Sines; um preço de energia solar entre os mais baixos do mundo; terrenos públicos disponíveis para instalar o complexo industrial de hidrogénio; e, last but not the least, uma rede moderna de abastecimento de gás natural. Este será também um projeto de desenvolvimento económico e social que criará e requalificará postos de trabalho existentes.
Durante a próxima década, pretendemos atingir 2 a 2,5 GW de capacidade instalada para produzir hidrogénio, ter entre 10% a 15% de hidrogénio injetado na rede de gás natural e construir entre 50 a 100 estações de abastecimento. Estes objetivos representam um investimento de cerca de 7 a 9 mil milhões de euros, sobretudo privado. A descentralização da produção é uma das prioridades, prevendo-se o aparecimento de projetos de diferente escala em todo o território. Juntamente com a nova legislação sobre comunidades energéticas, a produção descentralizada é uma oportunidade para atrair investimento para o interior do país, permitindo que cada região faça o melhor uso dos seus recursos endógenos e participe ativamente na transição energética.
A ambição ambiental do Green Deal não será alcançada se a Europa agir isoladamente. As alterações climáticas são globais, os desafios são complexos e interligados. A produção de hidrogénio reduzirá as importações, reforçando a segurança energética, de Portugal e da União Europeia. Acreditamos que podemos ter um papel ativo ao impulsionar a ampla utilização do hidrogénio verde, tornando-o um elemento chave para a descarbonização da Europa, mostrando – como sempre defendemos – que a transição energética, embora desafiadora, é acima de tudo uma oportunidade.