Por: João Januário, Diretor de Energia na Minsait em Portugal (Indra Group)
O papel que as tecnologias sustentáveis podem assumir no combate às mudanças climáticas tem sido, nos últimos tempos, alvo de vários debates. Mais do que uma necessidade, a transição para soluções inovadoras tornou-se um imperativo global, com a Europa a destacar- se como líder nesse processo.
Com as últimas semanas a mostrarem que as divergências entre Estados Unidos e Europa aumentam no que toca à ação climática, proponho uma reflexão sobre como está o ‘velho’ continente Europeu a lidar (e diria, também, a liderar) esta transição, apostando no desenvolvimento de soluções inovadoras que conciliam o crescimento económico e a sustentabilidade ambiental.
Sabemos que, nas últimas décadas, a União Europeia tem enfrentado fortes desafios no setor de capital de risco, perdendo terreno para os Estados Unidos e para a China. O mais recente relatório de Mario Draghi diz-nos que ‘a UE perdeu quota de mercado no setor de venture capital em apenas alguns anos, devido ao crescimento mais rápido dos EUA e da China’. No entanto, a história recente mostra sinais encorajadores de recuperação. Desde 2020, a Europa tem intensificado o investimento em tecnologias limpas, com foco em energias renováveis, veículos elétricos e tecnologias de hidrogénio.
Este é um esforço que tem dado frutos. No primeiro trimestre de 2024, as startups europeias da área de cleantech captaram 6,8 mil milhões de euros, ultrapassando regiões como os Estados Unidos e a Ásia. Esta liderança dá-nos um sinal claro de que a aposta em tecnologias sustentáveis pode não apenas reduzir emissões, mas também posicionar a Europa como referência global na transição climática.
Neste cenário, as empresas desempenham um papel fundamental. Mais do que apenas cumprir requisitos legais ou responder às pressões sociais, a adoção de soluções tecnológicas limpas representa uma oportunidade para se diferenciarem num mercado cada vez mais competitivo. Estabelecer metas claras de redução de emissões, criar planos de transição climática e investir em inovação, são também passos indispensáveis para as organizações que querem liderar esta mudança.
Ainda assim, não podemos ignorar as preocupações de muitas empresas que enfrentam dificuldades em manter a competitividade global devido às exigências regulatórias mais rigorosas na Europa, em comparação com outros mercados. Estas normas, embora necessárias, podem tornar-se um fardo se outros países e regiões não adotarem políticas semelhantes. É crucial que os parceiros comerciais da Europa sigam o exemplo, assegurando uma concorrência equilibrada. Caso contrário, corre-se o risco de as empresas europeias perderem terreno num mercado global cada vez mais competitivo.
A tecnologia pode ser o catalisador para uma transição climática bem-sucedida. Desde soluções que suportem as empresas na monitorização e otimização do impacto ambiental, a sensores IoT e modelos preditivos que utilizam inteligência artificial, já existe muita tecnologia que ajuda a promover um forte equilibro entre a eficiência das operações e a tão necessária sustentabilidade.
As empresas devem mover esforços no sentido de conseguirem alcançar (ou até mesmo antecipar) as suas metas de emissões, alinhando-se com os desafios climáticos e garantindo resiliência futura.
Este trabalho vai para além da tecnologia. Ao esforço das empresas devem juntar-se políticas públicas robustas e uma colaboração efetiva entre os setores público e privado. Programas como o ‘Next Generation EU’ têm sido fundamentais para impulsionar a adoção de tecnologias limpas, mas o sucesso, a longo prazo, dependerá da criação de ecossistemas de inovação integrados, onde startups, grandes empresas e governos colaborem para atingir metas ambiciosas.
É verdade que todos temos um papel a desempenhar na construção de um futuro mais sustentável. A aposta estratégica em cleantech não só fortalece a posição da Europa como líder global em tecnologias sustentáveis, mas também pavimenta o caminho para um futuro mais verde e próspero. Para tal, é preciso um ecossistema robusto onde o investimento em inovação, a colaboração e o compromisso com a sustentabilidade andem de mãos dadas.
O momento de agir é agora. Com tecnologia, visão e colaboração, temos a capacidade para transformar desafios em oportunidades e garantir um planeta mais limpo para as futuras gerações.