Opinião: “Celebrar o Dia Mundial do Ambiente em plena pandemia da Covid-19”
Por Bruno Silva Soares, mestre em Gestão Ambiental pela Universidade do Minho/ Gestor de Qualidade e Ambiente – Têxtil Manuel Gonçalves*
“A Organização das Nações Unidas celebra o 48º Dia Mundial do Ambiente, este ano, subordinado ao tema da Biodiversidade.
A crise ambiental que atravessamos é demonstrativa de que a nossa biodiversidade está em decadência acentuada e de que as alterações climáticas estão a criar um ponto de rutura no nosso planeta, sendo fundamental projetar aquilo que será o mundo após a pandemia da Covid-19.
A pandemia da Covid-19 exacerbou as desigualdades económicas, sociais e culturais em todo o mundo. Vivemos, neste momento, como um laboratório vivo à escala mundial, onde não existe uma resposta científica capaz de dar uma solução para esta problemática luta contra a Covid-19.
O aparecimento da Covid-19 demonstra claramente que ao destruirmos a nossa biodiversidade e os habitats das espécies selvagens que são responsáveis pelas zoonoses, destruímos o ecossistema que sustenta a vida humana, tornando cada vez mais possível a ocorrência de pandemias como aquela que vivemos neste momento. Ao mesmo tempo, o confinamento que nos vimos obrigados a implementar como forma de combate e redução da propagação do vírus originou uma considerável redução da poluição do ar e da emissão de gases com efeito estufa, que é, ainda assim, insuficiente para cumprir o Acordo de Paris.
A luta contra a crise ambiental e climática e crise da pandemia da covid-19 apresenta semelhanças naquilo que é abordagem política e na utilização dos seus recursos para minimizar as suas consequências. A crise ambiental e climática, levou o Parlamento Europeu, a 28 de Novembro, a adotar uma resolução a declarar emergência climática e ambiental, a par de vários estados-membros da União Europeia que já o tinham feito ou fizeram-no após a resolução do Parlamento Europeu, de forma gerir os recursos ambientais no combate à crise climática e ambiental. No caso da crise da pandemia da covid-19, no mês de março vários foram os países da União Europeia que declararam estado de emergência sanitária de forma a solucionar da forma mais rápida, firme e eficaz as consequências da pandemia da covid-19 assim como organizar e utilizar melhor os recursos do Serviço Nacional de Saúde.
A pandemia da Covid-19 remete-nos também para pensarmos criticamente acerca do princípio da justiça intergeracional e daquilo que é a vulnerabilidade das próximas gerações. As gerações futuras serão claramente mais afetadas económica e socialmente pelas alterações climáticas e degradação ambiental, sendo também fundamental referir o aumento das desigualdades entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Esta crise da pandemia da Covid-19 não se trata somente de uma possibilidade entre salvar empregos, garantir investimentos e resgatar a economia. Consubstância-se também numa oportunidade para criar novas políticas públicas direcionadas à crise ambiental, às alterações climáticas e à sustentabilidade.
A construção de novas políticas públicas direcionadas ao ambiente e economia verde, devem assentar em princípios base como a transparência, factos científicos e estudos ambientais, na capacidade de participação e consulta da sociedade civil e de organizações de forma a envolver todas as gerações e a garantir um plano a longo prazo, assim como garantir que o “produzir verde” signifique ganhar e “consumir verde” signifique poupar.
Devemos, entre outras opções, investir em novos hábitos de trabalho, empregos mais verdes, aumentar a capacidade de resposta da mobilidade sustentável, apostar numa economia verde, criar fundos de recuperação económica para empresas e organizações que sejam ambientalmente responsáveis e promovam um crescimento sustentável e inclusivo perante as adversidades da crise ambiental, assim como aumentar a fiscalidade verde e garantir benefícios sociais a quem cumprir as metas ambientais estabelecidas, de forma a acelerar a descarbonização da nossa sociedade.
Termos a capacidade de responder globalmente a esta crise sanitária é também termos a capacidade de responder a outra crise que há muito nos assola: a crise ambiental. Sair da crise provocada pela pandemia sem vincular a luta contra a crise ambiental e das alterações climáticas seria um dos maiores erros políticos dos nossos tempos. Acredito que este é o momento ideal para nos unirmos em torno do planeta. É um compromisso de todas as gerações e um dever da nossa geração lutar pela biodiversidade, contra as alterações climáticas, a diminuição de emissão de gases com efeito estufa e a destruição de habitats e ecossistemas. O momento atual deve ser encarado também como uma oportunidade única para mudarmos hábitos sociais e económicos e recomeçar com base nestes novos paradigmas ambientais.”
*Bruno Soares, de 26 anos, é mestre em Gestão Ambiental pela Universidade do Minho, com uma dissertação de mestrado sobre o Estado do Ambiente em Portugal – Políticas Públicas e o seu impacto. Está a especializar-se em Direito do Ambiente e das Alterações Climáticas na Nova School of Law, sendo gestor de qualidade e ambiente na Têxtil Manuel Gonçalves. Jovem socialista convicto, presidente da Associação Nacional de Jovens Autarcas Socialistas, activista ambiental por natureza e profissão, voluntário por dedicação tendo sido presidente do Leo Europa Fórum 2019 do movimento dos Leos de Portugal e European Leo Clubs.