Por: Amílcar Falcão, Reitor da Universidade de Coimbra
Perguntam-me qual deve ser o papel de uma instituição de ensino superior, como a Universidade de Coimbra (UC), na resposta aos desafios da sustentabilidade. E a resposta é só uma: deve liderar. Pelo exemplo. E pela utilização dos seus melhores recursos – investigação científica – na procura de soluções.
A existência centenária da Universidade de Coimbra é, por si só, um paradigma de sustentabilidade e resiliência. Nenhuma organização sobrevive e se mantém dinâmica ao fim de mais de sete séculos se não tiver a capacidade de responder aos novos desafios com que ela própria (e a sociedade em seu redor) se vai deparando. A UC sempre o fez. E assume a ambição de ser um exemplo para os jovens, e para a sociedade em geral, pois acredita que o desenvolvimento sustentável é o único caminho capaz de garantir o futuro das gerações que nos vão suceder.
A UC foi a primeira instituição de ensino superior em Portugal a assumir um compromisso público e inequívoco com a Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas. A persecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) está inscrita no nosso Plano Estratégico. Criámos um Gabinete para o Desenvolvimento Sustentável, que centraliza algumas competências nestes domínios e operacionaliza a aposta da UC numa comunidade académica focada num futuro sustentável e inclusivo. E lançamos o Observatório para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Coimbra, que envolve representantes dos estudantes, corpo técnico, docentes e investigadores na missão de refletir sobre matérias relacionadas com o desenvolvimento sustentável, apoiando a equipa reitoral na adoção de estratégias de gestão sustentável das suas atividades e recursos e de responsabilidade social na sua atuação. Não trilhámos este caminho por estar na moda, mas, sim, porque admitimos que temos um dever acrescido para que os nossos jovens gozem do futuro que lhes é devido.
Em que é que isto se materializa? Num sem-número de medidas, das mais simbólicas às mais efetivas. Promovemos a adoção de plantas (árvores e arbustos autóctones) pelos nossos estudantes, usando-as depois para reflorestar zonas carenciadas da região; disponibilizamos bicicletas à comunidade académica através do programa UCicletas; promovemos alterações de trânsito e estacionamento na Alta universitária, para garantir mais espaços aos peões e soluções de mobilidade mais sustentável; construímos de raiz um ‘edifício digital’, com soluções tecnológicas que permitiram diminuir em grande quantidade o gasto de papel e outros consumíveis; temos implementado soluções para tornar os edifícios energeticamente mais eficientes, melhorando as condições térmicas, acústicas e de iluminação, para reduzir consumos e conseguir uma utilização racional de recursos; e, tendo já um valor considerável de potência instalada de energia de produção fotovoltaica, estamos a trabalhar na criação de uma Comunidade de Energia Renovável.
Simultaneamente, investimos na produção e partilha de conhecimento com a sociedade. Podia falar das licenciaturas recentemente criadas em Biologia Marinha e em Gestão de Cidades Sustentáveis e Inteligentes; dos mestrados nestas mesmas áreas e em Recursos Biológicos, Valorização do Território em Sustentabilidade; da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável; da iniciativa Energia para a Sustentabilidade e das dezenas de projetos em curso nos nossos 38 centros de investigação que entram nos domínios da defesa do ambiente e do cumprimento dos ODS. Todos estes tópicos se entrecruzam na missão de formar cidadãos mais capazes de responder aos desafios da sustentabilidade.
Os mais conceituados rankings universitários da matéria – como o Times Higher Education Impact Rankings e o Quacquarelli Symonds World University Rankings: Sustainability – reconhecem este percurso, tendo destacado recorrentemente a Universidade de Coimbra, nos últimos anos, como a instituição de ensino superior mais sustentável de Portugal. Contudo, estes resultados – parte do longo caminho a percorrer para atingirmos o objetivo da neutralidade carbónica – não são mais do que um estímulo para continuarmos a trabalhar… E para que outras instituições de ensino superior nos possam seguir, em prol do bem comum. Queremos ser um exemplo. Mas a nossa missão só estará terminada quando conseguirmos transformar a sociedade no seu todo.