Opinião: “A Madeira como Região a caminho da sustentabilidade”
Por: Susana Prada, secretária Regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas
1418, Portugal lançava-se no caminho de uma nova exploração marítima, em direção a sul, em busca de novos mundos. Foi a João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira que o Infante D. Henrique, O Navegador, confiou esta pioneira missão. Dias mais tarde, desviados da rota por uma violenta tempestade, avistaram novo território a que deram o nome de Porto Santo, entenda-se porto seguro. Imbuídos neste espírito de descobrimento, estes navegadores não tardaram em desvendar outra ilha deslumbrante, cuja riqueza arbórea motivou o nome de Madeira. Numa longa e reveladora viagem de circum-navegação ao redor da ilha, qual não é o espanto destes descobridores quando, pela primeira vez, encosta a encosta, vislumbram a heterogeneidade da sua flora e fauna.
Vales e florestas exuberantes, montanhas imponentes, mares pristinos e elevada diversidade de espécies terrestres e marinhas são algumas das maravilhas naturais que distinguem o nosso arquipélago. Este imenso património natural desenvolveu nos habitantes uma forte cultura e consciência ambientais, fundamentais para uma Região de mãos dadas com a sustentabilidade.
Contudo, desafios globais como as alterações climáticas ameaçam a saúde destes ecossistemas, bem como o progresso económico-social alcançado. Erosão costeira, aumento do risco de deslizamento de terras, maior ocorrência de períodos de intensa precipitação com perigo de aluvião, verões mais extensos e secos, que potenciam a ocorrência de incêndios, são algumas das consequências das alterações climáticas que já se fazem sentir na Região.
O Governo Regional, ciente destes riscos, tem levado a cabo um extenso conjunto de investimentos que visam a reutilização de materiais e energia, a adaptação do território aos efeitos de um clima em mudança e a redução das emissões de GEE.
Exemplos incluem a reutilização a 100% das águas residuais urbanas da Ilha do Porto Santo para regadio; a ampliação da barragem hidroelétrica da Calheta e a instalação de uma central de baterias para armazenamento de eletricidade que permitirá, muito em breve, atingir 50% de eletricidade renovável no mix energético; a proteção da floresta contra o aumento do risco de incêndio através da criação de uma Faixa Corta-Fogo com 640ha, com gestão da carga combustível, reflorestação adequada, e instalação de uma rede hídrica; e a proteção de 75% do mar territorial e 65% da área terrestre do arquipélago como Rede Natura 2000 e/ou Área Protegida.
Sinal de que estamos a adotar as políticas corretas, é o reconhecimento internacional que recebemos. Em 1999, a UNESCO distinguiu a Floresta Laurissilva da Madeira como Património Mundial Natural e, no ano passado, elegeu o Porto Santo como Reserva da Biosfera. A Reserva Natural das ilhas Selvagens também foi premiada com a distinção GLORES, em 2018, tendo sido considerada um dos últimos ecossistemas marinhos intactos do Atlântico Norte. O Conselho da Europa atribuiu à Reserva Natural das ilhas Desertas o galardão Diploma Europeu para as Áreas Protegidas, em 2014.
O meu, o nosso compromisso é dar continuidade a este trabalho de resultados. Ir mais longe na prossecução de um equilíbrio entre desenvolvimento económico, qualidade de vida e ambiente requer o esforço de todos, porque só assim conseguiremos satisfazer as necessidades do presente, salvaguardando o planeta e as ambições das gerações futuras.