A água, bem essencial à vida, é fundamental nos ecossistemas e em todos os setores de atividade, pelo que tem que lhe ser dada o devido destaque. É essa a função da APRH – Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, que tem como missão estimular o tratamento multissectorial e interdisciplinar dos assuntos relacionados com a quantidade e a qualidade das águas interiores, estuarinas e costeiras, tanto superficiais como subterrâneas, constituindo um fórum para profissionais de diversas formações e setores de atividade com intervenção no domínio dos recursos hídricos. De facto, o setor da água tem que enfrentar muitos desafios, relacionados com a diversidade de temas e preocupações. É evidente a necessidade de refletir sobre questões relacionadas com a monitorização (quantidade e qualidade das águas), as disponibilidades hídricas, os consumos de água dos vários setores, os fenómeno extremos de escassez e excesso, a mitigação e adaptação às alterações climáticas, e a utilização de origens de água alternativas (água para reutilização, dessalinização, águas pluviais e reaproveitamento de água do ciclo produtivo).
Nas águas interiores, deve-se efetuar, entre outras atividades, uma avaliação do resultado da aplicação das medidas previstas nos Planos de Gestão de Região Hidrográfica, de Gestão dos Riscos de Inundações, entre outros, e discutir a Engenharia Natural aplicada à rede hidrográfica. A conservação das infraestruturas hidráulicas é, igualmente, um tema relevante, pois estas asseguram serviços imprescindíveis à sociedade. Nas zonas costeiras, cada vez mais se percebe a necessidade de aplicar análises custo‑benefício sobre as opções de intervenção, que visam mitigar os problemas de erosão costeira, incluindo a discussão de novas soluções para a defesa costeira. Os emissários e o saneamento nas zonas costeiras e o avanço da linha de costa e a intrusão de águas salinas em redes de saneamento são outros temas de relevo.
A água é também fundamental na indústria, onde há uma importante interação com os recursos naturais, sendo relevante o interesse nas áreas de energia, ambiente e recursos hídricos. Para o bom desempenho da indústria é necessário refazer um equilíbrio entre estas temáticas, verificando-se atualmente uma excessiva valorização do clima sobre a água, que deverá ser corrigida dando relevo à “Água”. A agricultura representa uma parcela importante nos recursos hídricos, havendo muitas vezes a perspetiva antiagrícola relacionada com os consumos de água. Destaca-se o incremento na implementação de boas práticas agrícolas (e.g. agricultura de precisão), que utiliza os recursos naturais (solo e água) na proporção necessária aos objetivos pretendidos, conduzindo à poupança de água e de fertilizantes. É necessário discutir e difundir as atuais práticas agrícolas, visando a promoção do esclarecimento e do aprofundamento dos conhecimentos relativos à utilização da água, junto da sociedade civil.
Com o objetivo de contribuir para a utilização parcimoniosa da água, a APRH iniciou recentemente o projeto “PANDDA – Os cidadãos como Promotores dA susteNtabiliDaDe da Água”, que visa promover a adoção de práticas de consumo responsável e uso mais eficiente da água, em ambiente residencial, através de formação e sensibilização adequada no âmbito do ciclo da água, alterações climáticas e estratégias de gestão do uso da água, a nível doméstico (podendo incluir atividades relativas à jardinagem). A água é um recurso escasso e indispensável, pelo que um uso mais eficiente da água, na medida do necessário e sem desperdícios, requer que edifícios e equipamentos sejam promotores de maior eficiência hídrica, e empresas, profissionais e cidadãos estejam mais capacitados para a sua utilização eficiente. A eficiência hídrica gera novas oportunidades, como novos serviços de valor acrescentado, empresas, empregos e profissionais qualificados, sendo fundamental para o país.
*Este artigo foi publicado na edição 90 da Ambiente Magazine.