Por Miguel Ricardo, General Manager do SITIO
O sucesso das estratégias ESG das empresas é algo que requer cada vez mais tempo e recursos às organizações. Face a um novo paradigma social e económico, focado na sustentabilidade e descarbonização, as organizações procuram formas de diminuir a pegada ecológica dos seus produtos e serviços.
No âmbito das suas estratégias de diminuição de emissão de dióxido de carbono, várias empresas têm em consideração as emissões de scope 3, uma categoria de emissões de gases de efeito estufa fora da pegada de carbono direta da organização. Um plano de mitigação destas emissões indiretas, ligadas à cadeia de valor da organização ou à mobilidade dos colaboradores, acaba por exigir uma reflexão profunda sobre os pilares essenciais do modelo de trabalho praticado pela organização.
Neste sentido, um dos primeiros passos a adotar é avaliar a possibilidade de mudar para um modelo de trabalho remoto ou híbrido, assegurando, em simultâneo, que a cultura da organização está preparada para esta mudança. Outra medida adotada por empresas de vários setores e em diferentes pontos de maturidade é a flexibilidade assente na subscrição de espaços de coworking.
Esta medida permite aos trabalhadores escolher locais de trabalho flexível, ou flex-offices, mais próximos das suas zonas de residência ou escolas de crianças a seu cuidado. As empresas ou profissionais independentes que adotam esta estratégia estão cientes de que representa uma melhoria significativa, para o planeta, mas também a nível de bem-estar.
A forma como nos movimentamos impacta profundamente vários aspetos da nossa vida. Os colaboradores e as lideranças sabem-no. Nenhum dos dois é fã de dias de chuva em filas de trânsito, ou deslocações ineficientes. A flexibilidade no trabalho, para além de permitir a redução de emissões de dióxido de carbono associadas às deslocações diárias, abre portas a uma maior disponibilidade para estados de espírito que são importantes para as organizações. A produtividade, a criatividade e a inovação são características maximizadas por um ambiente flexível.
Com que frequência nos é dada a opção de repensar algo tão básico como a forma como nos deslocamos todos os dias? Se nos fosse dada essa liberdade, escolheríamos deslocar-nos de bicicleta ou a pé? Certamente escolheríamos uma mobilidade mais alinhada com os valores que integramos no nosso dia-a-dia e com as necessidades dos que nos rodeiam. Certamente escolheríamos deslocações mais curtas e eficientes.
Uma das características essenciais de uma estratégia de descarbonização completa é o reconhecimento da necessidade de unir iniciativas que se complementam e analisar as interdependências existentes entre as diferentes áreas de atuação da empresa e dos seus colaboradores. Neste equilíbrio entre medidas de descarbonização, a redefinição do modelo de trabalho pode contribuir positivamente para aprofundar uma estratégia de flexibilidade laboral focada na mobilidade sustentável e na priorização da saúde mental.
Estou certo de que há algo que une empreendedores, freelancers, líderes e profissionais de áreas diametralmente opostas: nenhum deles gosta de manhãs e finais de tarde passados em filas de trânsito, que retiram tempo valioso que poderia ser passado em família, por exemplo. A flexibilidade, alicerçada numa mobilidade mais eficiente e ecológica, pode levar-nos muito longe, a nível profissional e pessoal.