Por: Luize Guimarães, cofundadora da MUVA e responsável pelas operações em Moçambique
O conceito de economia azul, que visa o desenvolvimento sustentável dos recursos oceânicos, ganhou visibilidade a partir da Conferência das Nações Unidas realizada no Rio de Janeiro em 2012. Até então, estava quase esquecido no cenário dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). De forma súbita, passou a ocupar posição de destaque no desenvolvimento internacional, atraindo atenção e, principalmente, recursos financeiros, que são cada vez mais necessários para promover ações concretas.
A MUVA, organização onde atuamos, foca em países do Sul Global e no fortalecimento econômico de populações marginalizadas, principalmente no Brasil e em Moçambique, que juntos representam o décimo quinto litoral mundial. Apoiamos, sem reservas, a crescente relevância dada à economia azul. Afinal, oceanos e mares garantem a subsistência e a segurança alimentar de cerca de três bilhões de pessoas no mundo – mais de um terço da população global – cujas vidas dependem diretamente da sustentabilidade desses recursos marinhos.
A Conferência das Nações Unidas para os Oceanos, que será realizada em julho na França, promete fortalecer essa discussão. No entanto, enquanto celebramos a visibilidade dada ao tema, questionamos como os organizadores pretendem abordar a representatividade das diversas vozes nas discussões, desafios e recomendações que surgirem. A análise do relatório de recomendações preparatório revela um desequilíbrio: cerca de 80% das organizações representadas são oriundas da Europa e das Américas. Embora muitas destas nações tenham vastas extensões de litoral, os países desenvolvidos, com maior poder econômico, não são os que mais dependem dos recursos oceânicos para subsistência.
Vale lembrar que o próprio termo “economia azul” surgiu da necessidade dos pequenos estados insulares em desenvolvimento (SIDS) de diferenciar suas realidades das abordagens convencionais da “economia verde”. Na Conferência do Rio, esses países defenderam que, para eles, a sustentabilidade estava no mar – não na terra. Essas comunidades, altamente vulneráveis às mudanças ambientais e económicas devem ser ouvidas. Na atual preparação da conferência, suas vozes representaram apenas 3% no relatório, enquanto os países africanos somaram cerca de 5%.
Para que a economia azul prospere verdadeiramente, é essencial que ela não seja guiada apenas pelas potências económicas. Precisamos de uma abordagem inclusiva que envolva os países em desenvolvimento e as comunidades costeiras que dependem da pesca, da biodiversidade marinha e da saúde dos ecossistemas.
A inclusão de vozes diversas é um passo não só moral, mas estratégico. O futuro dos nossos oceanos depende de uma visão integrada e colaborativa, onde todos – das pequenas nações costeiras aos grandes polos económicos – assumam a sua responsabilidade. Cabe aos organizadores do próximo UNOC garantir essa diversidade, promovendo a participação ativa de todos os setores da sociedade e assegurando que as prioridades do encontro reflitam, de fato, as necessidades e realidades globais.