A Voltalia Portugal organizou um Open Day nesta quarta-feira, 8 de maio, no Altis Belém Hotel, em Lisboa, para falar da atualidade e do futuro das energias renováveis, setor onde atua com projetos fotovoltaicos e eólicos.
João Amaral, diretor da empresa no país, começou por dizer que a Voltalia fechou 2023 “em linha com as expectativas, apesar de um mercado difícil” e dos projetos demorarem mais tempo a ser executados do que o pretendido.
Colocando o fator tempo como um desafio para a transição energética, esta “que se quer rápida”, o responsável garantiu que “somos uma empresa com missão” e em Portugal, que “é um país de sol”, o trabalho tem dado cartas. Como exemplo, João Amaral deu um parque solar algarvio, cujo terreno é irregular e fez com que os painéis fossem adaptados ao mesmo: “os painéis, tal como as árvores, querem estar orientados para sul e zonas planas no Algarve são difíceis de encontrar”, explicou. Por isso, o objetivo é adaptar o projeto ao terreno, tendo o menor impacto ambiental possível (como o corte de árvores). Este projeto do grupo em Portugal conta com 49MW de capacidade.
Ainda outro caso de boas práticas, exemplificou, é o recurso a mão de obra animal para fazer a limpeza dos parques. Estes animais consomem a matéria orgânica e o grupo fica livre de fazer corte de vegetação ou de usar qualquer tipo de pesticida.
Questionado sobre o impacto da guerra Rússia-Ucrânia no mercado da energia e eletricidade, o responsável confirma que os “preços dispararam”, mas houve também uma maior procura para autoconsumo.
Já Luís Pinho, country director da Helexia Portugal, empresa que integra o grupo Voltalia e que atua em território nacional há oito anos, falou da missão de produzir energia renovável, essencialmente solar, onde a energia é mais consumida – fábricas, indústrias e serviços.
Com o objetivo de “democratizar o acesso à energia” e “ajudar as empresas a atingir a eficiência energética”, a Helexia conta hoje com mais de 50 clientes de 12 setores de atividade, que já conjugam poupanças superiores a três milhões de euros. Os principais setores são o retalho, a cerâmica e vidro, o alimentar, o turismo e a indústria
“Consumir menos, consumir melhor” é o mote da empresa que considera que “o investimento é uma alavanca para o desenvolvimento sustentável” e que uma boa manutenção e monitorização são a chave para a eficiência e longevidade de um projeto, o que permite “maximizar o retorno do investimento”.
Além deste ramo, a Helexia, desde 2020, tem apostado na mobilidade elétrica, sendo que “em breve poderá haver novidades neste sentido”, sendo o objetivo “ter os nossos pontos de carga o mais porto possível do ponto de produção de energia”. Assim, a energia que vai para o carregador elétrico tem como fonte a energia solar.
Para 2024, a empresa perspetiva 80 projetos em operação, 47,1MW de energia limpa, 184 tomadas de carregamento para veículos elétricos, sendo que nos próximos dois anos representará 10% do volume de negócios, mais 900 auditorias energéticas e mais 15 mil isolamentos térmicos.
Além disso, a Helexia, este ano, está a organizar think tanks para os principais setores onde atua: o mês de abril é dedicado ao retalho, o mês de junho ao turismo, setembro ao setor agroalimentar e o mês de novembro à cerâmica.
“Energia nuclear é uma arma de descarbonização maciça”
Numa outra intervenção, o professor Bruno Soares Gonçalves, veio dar uma visão alternativa para a transição energética – esta que poderá passar pelo recurso à energia nuclear, cujos mitos e preconceitos devem ser combatidos.
Defendendo que a “energia nuclear é uma arma de descarbonização maciça”, contando com 5 a 6 g CO2/KWh, o orador exemplificou como os Emirados Árabes Unidos têm recorrido a esta fonte e como, por exemplo, a Suécia tem 30% de energia nuclear.
Entre outros pontos condenou o facto de Espanha querer acabar ou diminuir este recurso e ainda mostrou como o consumo mundial de carvão não tem diminuído, apesar das metas de descarbonização.
Além disso, explicou como o nível de toxicidade deste recurso está ao nível da energia eólica ou da energia solar e ainda evidenciou como a energia nuclear “tem uma baixa dependência de materiais críticos”, como é o caso do cobre, que começa a dar sinais de não ser suficiente para fazer a transição energética.
De forma simplificada, uma central nuclear precisa de menos material para gerar uma quantidade significativa de energia. E apesar de haver resíduos perigosos, “sabemos como os tratar”, frisa o professor Bruno Soares Gonçalves, realçando ainda com a energia nuclear pode ser usada na dessalinização e no fabrico de aço, por exemplo.
De forma geral, o risco da energia nuclear é médio, enquanto o da eólica é alto. Daí ser “necessário um contrato social com a população para aceitação” desta energia como parte do plano para atingir a descarbonização.