ONU: mundo tem de quintuplicar esforços para evitar catástrofes ambientais em grande escala
As nações do planeta estão a afastar-se do seu objetivo de controlar o aquecimento global, crescendo o fosso entre as emissões de gases de efeito de estufa e as metas ambicionadas pelo Acordo de Paris. A advertência foi feita pela ONU, no seu relatório anual. Se não houver um esforço em grande escala, as consequências serão catastróficas, avisa a organização.
Apesar dos compromissos tomados com o Acordo de Paris, assinado em 2015, a grande maioria dos países que dele fazem parte não serão capazes de o cumprir se não aumentarem significativamente esforços. O aviso é dado pelo relatório anual da ONU sobre o estado do meio ambiente.
Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2°C, os estados terão de triplicar até 2030 o nível global do seu compromisso, em comparação com as promessas feitas em 2015 na conferência sobre o clima em Paris (COP21), ressalva o Programa Ambiental das Nações Unidas (PNUMA).
Contudo, se isso já se afigura tarefa árdua, ainda mais difícil manter a subida abaixo dos 1,5°C, um aumento que provocará já distúrbios. Para atingir essa meta, a partir de agora os governos teriam de multiplicar por cinco os seus esforços, acrescenta este nono relatório sobre a ação climática, publicado cinco dias antes da abertura da 24ª Conferência Mundial do Clima na Polónia (COP24).
“Esta é a notícia mais alarmante: a diferença (entre o nível atual de emissões e o nível necessário) é maior do que nunca”, disse à AFP Philip Drost, que coordenou o relatório do PNUMA.
Em 2017, as emissões de gases do efeito de estufa voltaram a aumentar após três anos de relativa estabilidade. Até ao final, 2018 deve manter a mesma tendência, com um aumento esperado das emissões do setor de energia (3/4 do total), alertou a Agência Internacional de Energia.
O cenário do PNUMA é ainda mais desanimador do que o apresentado no ano passado também porque as investigações mais recentes mostram que não será possível contar com uma implantação ampla e rápida de tecnologias de absorção de CO2.
As emissões em 2017 atingiram um nível recorde de 53,5 gigatoneladas (Gt) de CO2, diz o PNUMA. E “nada nos indica que atingiram um pico, ou seja, o ponto onde estabilizam e passam de uma alta para a queda”.
Para manter um aumento de 2°C, seria necessário emitir um máximo de 40 Gt de CO2 em 2030 e 24 Gt para 1,5°C, ou seja, pouco menos de metade do que atualmente se emite. Mas se os países mantiverem a mesma tendência, sem fortalecer o combate às emissões, acabaram por produzir outros 59 Gt neste prazo, aponta o relatório. Lido de outra forma, para atingir os objetivos do Acordo de Paris é necessário que as emissões globais de CO2 atingissem o seu pico em 2020, mas a análise aponta para que nem em 2030 isso seja possível com os atuais esforços.
Segundo os autores, 49 países atingiram o seu pico de emissões, mas representam apenas 36% das emissões globais. E, no total, apenas 57 estados (60% das emissões) estão a caminho de atingir essa meta até 2030 – se as promessas de 2015 forem cumpridas.
“Como correr atrás de um autocarro”
Mas há progressos, como o “boom” das energias renováveis, o aumento da eficiência energética, de ações de coletivos locais nos transportes; e o PNUMA destaca o dinamismo do setor privado e o potencial inexplorado da inovação e financiamento verde.
Mas lutar contra a mudança climática hoje “é como correr atrás de um autocarro”, explica Andrew Steer, presidente do thinktank World Resources Institute. “Estamos a avançar cada vez mais rápido, estamos quebrar recordes, mas o autocarro continua a acelerar e a distância aumentar”.
De acordo com o relatório especial divulgado em outubro pelos especialistas em clima da ONU (IPCC), o mundo também deve visar o objetivo de 1,5°C e não apenas 2°C, se quiser evitar grandes impactos, ondas de calor, super-furacões ou calotas polares desestabilizadas. Mas no estado atual, caminhamos para um aumento de 4°C em comparação com o nível pré-industrial, no final do século.
O PNUMA insiste na necessidade de um impulso a nível nacional e o papel dos governos, por exemplo, por meio de “uma política fiscal cuidadosamente projetada (…) para subsidiar soluções de baixo carbono e tributar combustíveis fósseis”.
Muitos países do G20, em particular, não deverão ser capazes de cumprir os seus compromissos assumidos em Paris (UE, EUA, Austrália, Canadá…), de acordo com as suas trajetórias atuais. A China e a Rússia devem lá chegar, mas as suas ambições eram relativamente limitadas.
Na COP de Katowice, que começa no domingo, os estados serão convidados a responder ao relatório do IPCC e analisar a extensão do seu compromisso global. O acordo de Paris prevê uma revisão das contribuições nacionais para 2020.
“Os governos devem realmente retomar as suas contribuições e elevar as suas ambições”, disse Drost, do PNUMA. “Há muito o que fazer, e devemos agir rapidamente – não em décadas, agora.”