A Comissão Europeia propôs uma alteração direta ao estatuto de proteção do lobo ao abrigo da Diretiva Habitats. Esta proposta surge na sequência da decisão de reduzir a proteção do lobo na Convenção de Berna, que entrou em vigor a 6 de março de 2025, gerando fortes críticas por parte de especialistas em conservação e organizações ambientais.
Nos últimos 18 meses, a União Europeia tem vindo a pressionar para baixar o estatuto de proteção do lobo, apesar da falta de provas científicas sólidas. Em dezembro de 2023, Ursula von der Leyen tornou-se a primeira Presidente da Comissão Europeia a propor a redução do estatuto de proteção de uma espécie num fórum internacional. Nos meses que se seguiram, Portugal posicionou-se contra a redução da proteção, “tendo a Ministra do Ambiente Maria da Graça Carvalho alterado o seu sentido de voto na véspera da eleição, em setembro de 2024, abrindo um precedente e dando um passo muito perigoso ao contribuir para a desproteção da biodiversidade”, revela a WWF Portugal.
As populações de lobos têm vindo a recuperar em várias partes do continente, representando um grande sucesso para a conservação. No entanto, o seu estatuto de conservação continua longe de ser favorável e a recuperação ainda é frágil. Em Portugal, os resultados do censo nacional (2019-2021) do lobo-ibérico, publicados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), confirmam uma deterioração do estado de conservação desta espécie em Portugal, com uma redução significativa da sua área de presença e uma diminuição do número de alcateias confirmadas e prováveis.
“Reduzir a proteção do lobo é uma decisão errada, que coloca interesses políticos acima da ciência e agravará ainda mais a polarização do debate. Esta medida não traz benefícios reais para as comunidades rurais e, ao mesmo tempo, mina completamente a oportunidade de continuar a investir em medidas preventivas para promover a coexistência”, afirma a coligação de ONGs composta pela WWF, BirdLife Europe, ClientEarth e o European Environmental Bureau.
“Em vez de fortalecer a natureza na Europa – a nossa melhor aliada contra as crises climática, da biodiversidade e da poluição –, a UE continua a reverter um dos maiores sucessos da conservação nas últimas décadas. O ataque da UE ao lobo cria um precedente extremamente perigoso para a política de conservação da natureza, pois ignora a abordagem baseada na ciência e transforma a proteção das espécies numa moeda de troca política”, continua a coligação.
Em Portugal, o lobo-ibérico está classificado pelo Livro Vermelho de 2023 como “Em Perigo”, estando em pior estado do que em Espanha (tem a classificação de “Quase Ameaçado” no país vizinho). Para a WWF Portugal, os dados confirmam que têm sido escassos os esforços dos últimos Governos para travar o declínio da espécie, agravado pela perda e fragmentação de habitat, perseguição direta, escassez de presas naturais, os incêndios florestais e as alterações climáticas.
“A decisão de reduzir a proteção do lobo, apoiada por Portugal, compromete décadas de esforços de conservação e estabelece um precedente perigoso para a biodiversidade. A fragilidade do lobo-ibérico demonstra que os objetivos de conservação ainda estão longe de ser alcançados, e esta medida apenas agrava os desafios que a espécie enfrenta”, alerta Catarina Grilo, Diretora de Conservação e Políticas da WWF Portugal.
A coligação apela agora aos Estados-Membros e ao Parlamento Europeu para que protejam a integridade da Diretiva Habitats.