ONG britânica atribui metade das emissões de CO2 a 10% dos habitantes mais ricos do mundo
A organização não-governamental britânica Oxfam afirmou hoje que 10% dos habitantes mais ricos do mundo são responsáveis por mais de metade das emissões de dióxido de carbono (CO2). Num relatório divulgado à margem das negociações sobre o clima, que decorrem em Le Bourget, arredores de Paris, a Oxfam adianta que, no sentido inverso, metade dos mais pobres no planeta é responsável por apenas 10% dos dejetos poluentes.
“As alterações climáticas estão intrinsecamente ligadas às desigualdades económicas: é uma crise induzida pelas emissões de gases com efeito de estufa que afetam mais duramente os pobres”, lê-se no relatório intitulado “Desigualdades Extremas e Emissões de CO2”. No documento, é demonstrado que uma pessoa que faça parte do 1% da população mais rica do mundo “gera, em média, 175 vezes mais” dióxido de carbono do que a que está entre os 10% mais pobres do mundo, revela a agência Lusa.
Apesar de o cálculo das emissões de CO2 se fazer geralmente em função da produção por país, o estudo analisa sobretudo as formas de consumo individual e tem em conta os produtos importados, comparando ainda os efeitos desses modos de vida sobre o clima.
O relatório da Oxfam mostra também que, mesmo que as emissões totais dos grandes países emergentes progridam muito rapidamente – a China é o primeiro poluídos do mundo -, “as emissões ligadas ao modo de consumo dos habitantes mais ricos desses países são bem menores do que as dos seus equivalente nos países ricos da OCDE”.
A Oxfam salienta que a Índia, o terceiro país mais poluidor do mundo, atrás da China e dos Estados Unidos, deverá destronar os norte-americanos até 2030.
“É certo que as emissões aumentam rapidamente nos países em desenvolvimento, mas grande parte delas é proveniente da produção de bens de consumo noutros países”, sublinha a organização não-governamental britânica. Os países em desenvolvimento devem fazer a sua parte, mas cabe aos países ricos mostrar o caminho e assumir as consequências desastrosas do seu modo de consumo e de desenvolvimento”, acrescenta-se no documento.
No início de novembro último, os economistas franceses Lucas Cancel e Thomas Piketti divulgaram um estudo semelhante e demonstraram que um norte-americano emite, em média, 22,5 toneladas de equivalentes a dióxido de carbono por ano, valor que é de apenas 2,2% quando se trata de um cidadão africano.
A questão da “responsabilidade histórica” dos países industrializados na deriva climática e a ajuda financeira aos países do Sul para poderem adaptar-se ao efeito de estufa e ao aquecimento global constituem os “pontos críticos” das negociações internacionais em curso.