O Governo norte-americano vai reforçar a sua política climática com cortes de quase um terço das emissões de CO2 das centrais eléctricas que queimam carvão ou gás natural, indica o jornal Público. O presidente dos EUA anunciou, ontem, um plano para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 32% nos próximos quinze anos, em relação aos níveis de 2015. Para isso, vai promover a redução das centrais eléctricas a carvão, favorecendo as energias renováveis, como a eólica e a solar. As renováveis deverão subir para 28% dos actuais 13%. Com estes números, avançados antes do anúncio completo do pacote governamental, o nuclear, que representa hoje 19% cairia 15% apesar da intenção de se construírem novas centrais e de estender a vida útil das existentes. O que o plano pretende é conter uma eventual corrida à electricidade produzida a partir de gás natural – o menos poluente dos combustíveis fósseis, mas, ainda assim, um emissor de CO2.
Uma nova regulamentação neste sentido – o Plano para a Electricidade Limpa – foi apresentada ontem pela Administração de Barack Obama, mas promete apresentar forte contestação nos tribunais. Se com este plano Obama – que deixa a Casa Branca em janeiro de 2017 – pretende juntar o ambiente à lista dos deus legados como presidente – do Obamacare à aproximação a Cuba – e colocar o tema na agenda para as presidenciais de 2016, a verdade é que para aplicar as propostas tem pela frente uma longa batalha, tanto com o sector do carvão como com a oposição republicana.
A versão final do plano, agora concluída, incide sobre cerca de 1000 centrais termoeléctricas já existentes. As novas já tinham sido alvo de regulamentação em 2013 pela Agência de Protecção Ambiental (EPA, na sigla em inglês). O que a EPA agora propõe são metas de redução de emissões de CO2 no sector eléctrico, para cada estado. Caberá a cada um, no entanto, determinar como atingir a sua meta. “Os estados podem reduzir a sua poluição carbónica da forma que lhes parecer mais conveniente”, disse Gina McCarthy, responsável pela EPA, numa conferência de imprensa no domingo.
À frente do segundo maior poluidor mundial (atrás da China), Obama lembrou, na Casa Branca que “só temos uma casa. Só temos um planeta. Não há plano B”, adianta o Diário de Notícias. Diante de uma plateia cujos aplausos o interromperam várias vezes, o presidente admitiu: “Vai haver críticas, vai haver cínicos que vão dizer que não pode ser feito”. Mas Obama considerou essa críticas como “desculpas para a inação”.
A verdade é que ainda Obama não apresentara o plano já as reações choviam. Vários governadores, sobretudo republicanos, ameaçaram não aplicar os cortes nas emissões. Com as centrais movidas a carvão a produzir 39% da energia nos EUA, o sector promete recorrer aos tribunais para travar as propostas. Além de tentarem o bloqueio no Congresso, onde os republicanos têm maioria nas duas câmaras. Argumentam que estas medidas não vão só prejudicar a indústria do carvão, como vão aumentar a conta da eletricidade dos americanos. A associação da energia rural garante que os mais prejudicados pelo que diz ser um aumento “de 10%” nos preços, serão “os mais vulneráveis”. Obama rejeitou estas acusações, garantindo que o seu plano “vai poupar aos americanos em média 85 dólares por ano na fatura da energia”. A Casa Branca prevê ainda benefícios para os estados que apostem nas renováveis antes do fim do prazo de implementação, em 2022.
Com a conferência de Paris sobre o Clima agendada para o fim do ano e com a ONU a trabalhar numa resolução que a BBC diz ainda ter mais de 80 páginas, o esforço de Obama pode ser essencial para pressionar os países mais reticentes a reduzir as emissões. “Nenhum país vai resolver o aquecimento global sozinho”, lembrou o presidente dos EUA.