O vinho também pode ser sustentável e o Alentejo quer prová-lo
A região do Alentejo, muito conhecida pelos qualidade dos seus vinhos, criou um Programa de Sustentabilidade para que os produtores adoptem medidas vinícolas mais amigas do ambiente.
Criada em 1989, a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) dedica-se a certificar, controlar, proteger e promover os Vinhos do Alentejo. Com o objetivo de fomentar a sustentabilidade do setor vitivinícola na região, teve a ideia de criar o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), tornando-se a “única comissão vitivinícola em Portugal com um compromisso público assumido neste tema”, frisa João Barroso, gestor de Sustentabilidade da CVRA.
O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo é dirigido aos produtores de uva e vinho da Região Vitivinícola do Alentejo e foi desenvolvido tendo por base as indicações de sustentabilidade para o setor da Organização Internacional do Vinho (OIV). Os seus conteúdos foram desenvolvidos, em conjunto, por produtores do Alentejo, pela Universidade de Évora e pela Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo.
João Barroso explica que os Planos Coletivos de Sustentabilidade são “uma prática comum em algumas regiões vitivinícolas mundiais”, com diversos mercados a começar a exigir “garantias da aplicação de princípios de sustentabilidade” — como os EUA, Brasil, Suíça, Canadá e Escandinávia.
A adesão ao Programa é gratuita e o mesmo oferece, aos produtores, vários incentivos à sustentabilidade em termos de material (inclui um manual de avaliação produzido em cartão e papel reciclado, com tintas à base de soja), auxílio na implementação no terreno, consultoria, formação e visitas de estudo para a observação de boas práticas entre membros do programa. O programa pressupõe, entre outras medidas, o uso de energia solar na produção de vinho — sendo o Alentejo uma das zonas com mais horas de exposição solar da Europa.
“A sustentabilidade não é uma moda”
O responsável explica que o setor agrícola, nas últimas décadas, foi marcado pelo crescente monopólio dos produtos químicos (herbicidas e pesticidas) e derivados de hidrocarbonetos (petróleo) e do aumento da produtividade a baixo custo.
A utilização dos recursos naturais, nomeadamente da água potável, como se fossem infinitos é outro problema: “Nunca houve realmente uma política nacional orientada para a poupança de água e as campanhas de sensibilização para a indústria ou sociedade civil foram pontuais e focadas em alturas de escassez.”.
No entanto, João Barroso observa que “Tradicionalmente este setor tem cuidados com o ambiente e a sustentabilidade. Muitos produtores consideram-se zeladores da Terra”, adiantando que estes receberam essa “missão” dos pais e querem transmiti-la aos filhos e netos. Também os próprios consumidores procuram, cada vez mais, “produtos que sejam amigos do ambiente, sem apresentarem conflitos éticos”.
“A sustentabilidade não é uma moda. É o novo paradigma do século XXI”, descreve, “as empresas e pessoas que não interiorizarem que os recursos naturais não são infinitos e que temos apenas um planeta, vão ser ultrapassadas”, conclui.