O que se faz de inovador na área ambiental? (I)
Nunca a Inovação e a Sustentabilidade estiveram tão interligadas. Há cada vez mais projetos a serem desenvolvidos, com a inovação a ser a “chave” do sucesso de dezenas de empresas. O que se faz de inovador na área ambiental? Foi em busca desta resposta que fomos à procura de projetos que já estão implementados e outros que ainda estão a dar os primeiros passos.
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Re-Source
Trata-se de um programa de inovação colaborativa promovido anualmente pela Sociedade Ponto Verde (SPV) em colaboração com a Beta-i, desafinando startups de todo o mundo a trabalhar em conjunto com grandes empresas e organizações em Portugal, criando projetos-piloto inovadores que tornem mais eficaz a reciclagem e possam incentivar a uma maior participação dos cidadãos. Já na segunda edição e tem, o projeto tem o objetivo desde a sua génese de promover a circularidade nas embalagens, acelerar a transição digital no setor da gestão de resíduos e da reciclagem em Portugal e encontrar novas abordagens que tragam maior acessibilidade e conveniência no processo. Tal como lembra Ana Isabel Trigo Morais, CEO da SPV, há compromissos e metas europeias para cumprir, pelo que “é fundamental continuar a repensar as cadeias de valor e os ciclos de vida de produtos e serviços, encontrar soluções inovadoras que reduzam o consumo de matérias-primas e promover a reciclabilidade e a reutilização de materiais de embalagem”. Como contributos ambientais, o Re-Source visa a descarbonização da cadeia de valor das embalagens, acelerar a circularidade na indústria e consumo e melhorar a jornada do consumidor rumo à sustentabilidade. Enquanto aliado do setor, o projeto é o único caminho que “possibilita a partilha de conhecimento e a identificação de soluções inovadoras e digitais que, no seu conjunto, vão possibilitar o setor tornar-se mais “verde”, mais inclusivo e mais responsável”, precisa.
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OesteLED
Implementado em 2019, o projeto de iluminação pública OesteLED IP ESE, concebido pela OesteSustentável – Agência Regional de Energia e Ambiente do Oeste, abrangeu os 12 municípios da Região Oeste e foi caracterizado pela melhoria da eficiência energética na iluminação pública (IP) através da substituição das antigas lâmpadas por LED: “No total, foram beneficiados cerca de 68500 pontos de luz, possibilitando uma redução de 26,4 GWh/ano formalmente previstos, que equivalem ao consumo de eletricidade de cerca de 7500 habitações”, começa por explicar Rogério Ivan, coordenador do projeto, destacando que a “poupança contratualmente estimada foi de 3,4 milhões euros/ano, sendo que, “atualmente, essa poupança é substancialmente maior”, podendo este chegar aos “6,6 milhões euros”, acrescenta. Em matéria de compromissos ambientais, o projeto OesteLED deu um grande contributo, particularmente nas “metas de redução de 20% em 2020 das emissões globais, correspondentes à energia consumida” na região, tendo “reduzido cerca de 10 mil tonCO2eq de GEE”. Esse montante corresponde a aproximadamente “7% das emissões resultantes do uso de eletricidade nos 12 municípios da Região Oeste”, ultrapassando em um terço as metas propostas. Com um investimento total de cerca de 12,5 milhões de euros, o OesteLED afigura-se como um dos maiores projetos de eficiência energética e com maior impacto económico no mundo: “Para além do elevado nível de poupança obtida através da redução energética (81%), acresce ainda o facto de em Portugal a tarifa de eletricidade ser uma das mais altas no mundo”. Estes benefícios levaram a que o mesmo fosse considerado um “caso de sucesso” a nível internacional, integrando a iniciativa “Prospect+” em 2020 e, em 2023, será financiado pelo Programa Horizon2020 e Life, na qualidade de entidade mentora.
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BSEArcular
Surge para dar resposta sobre o que fazer com os resíduos de plástico que acabam a poluir os mares e oceanos. A iniciativa, tal como explica Raúl Sanahuja, PR Manager & Social Media da Epson Ibérica, surge da vontade de todos os intervenientes em trabalhar no desenvolvimento de projetos que permitam um modelo económico mais responsável com o ambiente, contando com limpeza de praias para angariação de plástico marinho e a sua transformação em malhas circulares para criação de tecidos. “Estes tecidos, impressos como uma folha em branco, foram depois utilizados por alunos da Lisbon School of Design para criarem as suas peças de moda, personalizados posteriormente pela Epson, através de uma das técnicas de impressão menos invasivas e mais sustentáveis para o meio ambiente: a sublimação”, refere o responsável, destacando tratar-se de um projeto que incorpora os princípios economia circular. O B-SEArcular também se posiciona como uma “plataforma de projeção para jovens profissionais do design têxtil”, especialmente no campo da “moda sustentável”, acrescenta. Já terminado, o projeto promoveu também a limpeza das praias e oceanos: “A verdade é que o aumento do lixo plástico é uma das ameaças mais importantes aos ecossistemas em todo o mundo e o consumo excessivo deste material e a má gestão da sua reciclagem e coleta fazem com que milhões de toneladas cheguem aos mares e oceanos a cada ano”. Embora um dos primeiros passos para resolver este problema seja “reduzir a fabricação e o uso de plásticos no dia-a-dia”, o responsável aponta a necessidade de se “pensar no que fazer com os resíduos existentes que acabam a poluir os mares e oceanos, sendo aqui que o projeto B-SEArcular entra”. O projeto ajuda o setor têxtil a ser mais sustentável, até porque a personalização dos tecidos é feita pela Epson através da técnica da sublimação: “A impressão têxtil digital, ou seja, a impressão de moda sustentável, funciona mediante injeção de tinta e permite 80% de poupança energética, consome 60% menos de água e, portanto, reduz consideravelmente a produção de resíduos associada ao processo de produção”.
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BaZe – Living LAB Maia
Consciente da necessidade de mudança, o Município da Maia integra na estratégia “Maia 2028” ações e medidas que visam uma cidade zero emissões de carbono: “O BaZe – Balanço Zero de Carbono é, precisamente, um projeto de experimentação, orientado por um programa de ações e medidas que estão integrados no conceito de laboratório vivo – Living Lab Maia, que permite a aplicação, demonstração, apreciação e apropriação de soluções integradas e transversais que promovem a descarbonização do território”, adianta o residente da Câmara Municipal da Maia, António Silva Tiago, dando nota que o “ambicioso plano de implementação” do laboratório “inclui iniciativas tangíveis e intangíveis, de caráter inovador, disruptivo e com impacto na descarbonização do espaço urbano”. A proposta abrange todas as áreas com impacto positivo na transição do paradigma de urbanidade em curso na cidade: “A este propósito, foram realizadas várias alterações em edifícios e parques para que a cidade se tornasse ambientalmente mais eficiente”. A título de exemplo, o autarca destaca a “rega monitorizada no espaço verde do Parque Central, as passadeiras inteligentes, a diminuição do consumo de energia no parque de estacionamento subterrâneo do centro da cidade, o E-HUB para carregamento de 10 veículos elétricos, o BaZe-Oficina – laboratório de fabricação digital e a cobertura verde no Fórum da Maia”. António Silva Tiago destaca também o projeto da Cobertura Verde do Fórum da Maia, tendo sido uma forma de apresentar à comunidade uma “solução de cobertura de edifícios com base na Natureza”, demonstrando na prática os inúmeros benefícios ambientais, financeiros e sociais que estas soluções representam. A “melhoria do microclima e consequente redução do efeito de ilha de calor” é uma das “mais valias”, assim como a “melhoria da qualidade do ar, através da captação de CO2 e produção de oxigénio” ou através da “retenção de poeiras e partículas em suspensão no ar”. A ideia é replicar esta experiência noutros espaços do território maiato. A subtituição de luminárias e lampadas LED foi também outas das medidas, permitindo uma “redução no consumo de 40%”. Em suma, “O BaZe foi dos mais ambiciosos, desafiantes e exigentes projetos na área do ambiente e sustentabilidade, sobretudo porque convoca, além do Município da Maia, vários parceiros institucionais e privados”, remata.
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K2D – Knowledge and Data from the Deep to the Space
Nasce de um consórcio internacional e multidisciplinar que visa desenvolver tecnologia para monitorização das profundezas dos oceanos. A equipa do projeto K2D propõe-se, assim, a desenvolver um sistema global e totalmente disruptivo, baseado em cabos submarinos e capaz de lidar com diferentes profundidades. Para a comunidade científica, as alterações climáticas só serão totalmente compreendidas e previsíveis assim que for possível recolher dados e monitorizar toda a coluna de água: “Com estes dados, será possível melhorar os algoritmos de previsão meteorológica e compreender as diferentes interações ente ecossistemas de fauna e flora subaquáticas”, refere João Faria, Innovation Manager da dstelecom, acrescentando que, para dar resposta à necessidade, a equipa do projeto K2D encontra-se a desenvolver um “sistema de monitorização das profundezas do oceano tanto para acoplar a cabos submarinos existentes, como para serem integrados em novos cabos”. O desenvolvimento contempla um “conjunto sinérgico de componentes, incluindo sensores e Veículos Submarinos Autónomos” (AUV’s), que permitem a “recolha de variáveis físicas, químicas, biológicas e ambientais incluindo informação acústica e de DNA ambiental”, refere. Com este sistema será possível “recolher variáveis para monitorização em tempo real, algo extremamente difícil de alcançar, tanto em mar aberto como em profundidade”, devido à ausência de infraestruturas de telecomunicações. Desta forma, será possível “medir as variações das propriedades da água”, bem como “perceber como estas influenciam a vida marinha nas suas imediações”, sucinta. Em matéria ambiental, o K2D vai permitir monitorizar a qualidade da água: “Neste âmbito, a solução proposta irá permitir, através sensores integrantes do sistema, monitorizar em tempo real diversos parâmetros físicos, químicos e biológicos nas redondezas do cabo submarino”. O sistema contempla também AUVs sensorizados, o que vai permitir alargar a área de cobertura: “Estes robôs atuam de forma totalmente autónoma e voltam mais tarde à docking station, colocada no cabo, para descarregar os dados medidos e recarregar as suas baterias”. A isto, soma-se o contributo de monitorizar a presença de animais marinhos: “Além dos parâmetros físicos, químicos e biológicos da água através de transdutores acústicos, será possível detetar a presença de vida marinha, bem como caracterizar o ruído da região evolvente e com isso catalogar e detetar variações. A ampla recolha de dados físicos, químicos e biológicos irá permitir estudar, pela primeira vez, a interação destas variáveis com a vida marinha”, indica. O projeto vai, ainda, permitir “monitorizar padrões terrestres” tais como a atividade sísmica ou tsunamis, sucinta. O K2D tem data de conclusão prevista para junho de 2023.
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CommuniCity
O CommuniCity é um projeto de três anos financiado pelo programa-quadro Horizon Europe da Comissão Europeia, assente em programas de inovação, métodos, laboratórios-vivos e plataformas à escala europeia. Com a duração de 36 meses, o projeto reveste-se de grande importância para cumprimento do objetivo da neutralidade carbónica a que a cidade do Porto se comprometeu. “Temos a clara noção que não é possível uma verdadeira transformação digital sem uma capacitação digital”, isto é, “ensinar competências digitais é dar ferramentas para uma melhoria global do modo de vida”, refere Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, considerando que “uma pessoa informada, com acesso facilitado ao conhecimento, está em posição de tomar melhores decisões e de forma mais consciente. Se não criarmos condições para as pessoas superarem situações de pobreza e de necessidade, dificilmente poderemos esperar que se preocupem com as questões ambientais”, insiste. Através do CommuniCity, serão levados a cabo pilotos que vão criar laboratórios-vivos onde as soluções testadas vão melhorar a qualidade de vida das comunidades desfavorecidas, “, capacitando-as através da cocriação e da coaprendizagem”, enquanto facilita “a ligação às respetivas cidades”. O grande foco do CommuniCity é “recorrer à tecnologia para incluir e motivar os setores da sociedade que habitualmente não usufruem diretamente dos benefícios da digitalização”, refere Filipe Araújo, acreditando que “ao diminuir esse fosso, estaremos a caminhar no sentido de uma sociedade mais justa, inclusiva e sustentável”.
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H2OforAll
É um projeto internacional, coordenado em Portugal pela Universidade de Coimbra, que visa desenvolver um conjunto de tecnologias inovadoras que atuem na prevenção da contaminação, monitorização da qualidade e descontaminação da água de consumo, além da definição de normas orientadoras de apoio aos decisores políticos. Com a duração de 36 meses, o H2OforAll arrancou em novembro e quer garantir a segurança máxima da água de consumo: “A deterioração das fontes onde é captada a água que posteriormente vai chegar às nossas torneiras tende a agravar-se”, refere Rui Martins, professor do Departamento de Engenharia Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, destacando a importância de “maiores quantidades de desinfetantes para garantir a qualidade da água de consumo”, bem como “desenvolvimento de novos métodos e tecnologias que garantam, no presente e no futuro, a segurança máxima da água de consumo”. Ao ser necessário utilizar cada vez mais “cloro na desinfeção da água potável, essencial para impedir doenças”, uma das consequências é a geração dos chamados subprodutos de desinfeção (DBPs): “Se não forem identificados e controlados, podem ser nocivos para a saúde humana e para os ecossistemas”, atenta. Um dos objetivos do projeto é justamente “prevenir a formação desses DBPs, utilizando processos de pré-tratamento da água que consigam remover os compostos orgânicos promotores desses subprodutos de desinfeção”. Por outro lado, pretende-se desenvolver estratégias alternativas de desinfeção inovadoras”, acrescenta. O H2OforAll pretende ainda desenvolver soluções tecnológicas que permitam controlar e acompanhar todo o percurso da água, “desde a captação até à distribuição”, refere o coordenador.
*Este artigo foi incluído na edição 97 da Ambiente Magazine