“Queremos salvar o planeta”. Esta é uma frase que nos últimos dias tem servido de pano de fundo para jovens de todo o mundo se manifestarem contra os Governos e Empresas que nada fazem para salvar o planeta terra. Os mais recentes episódios em Portugal já deram origem a ações mais radicais, interrompendo eventos onde estão representadas instituições e empresas. Sendo estas as gerações futuras, como encontrar um equilibro para que haja ações concretas e sem quaisquer desvios no foco de “salvar o planeta”. A Ambiente Magazine conversou com Carlos Ferreira, CEO da Sondar, que partilha uma visão mais contraditória daquilo que hoje os jovens proclamam.
Como define um jovem ambientalista?
Atualmente, um jovem ambientalista faz uma espécie de “stand up comedy”: atiram latas de tinta para os Ministros e, “pelo clima”, pintam e estragam obras de arte. Diria que têm comportamentos fora do contexto e como se fossem inimputáveis: não digo que não tenham interesse pelo clima, mas têm mais interesse pelo espetáculo e não é assim que se resolvem os problemas.
E como deveria ser um jovem ambientalista?
Deveria ser alguém que tem ações em prol do ambiente, ou seja, que faça ações concretas pelo planeta, incentivando, por exemplo, as boas práticas de mobilidade, de sustentabilidade, de reciclagem, de reutilização ou de redução de consumo e não defender utopias, algo que não é possível. Por exemplo, acabar com os carros todos é algo impossível e que não vai acontecer. Este tipo de ações radicais resulta no desacreditar dessas mesmas ações: uma coisa é apelar por algo equilibrado e possível, outra coisa é pedir o impossível, havendo uma enorme perda de credibilidade por parte destes ambientalistas que acabam por ser radicais. E tudo o que é radical não funciona.
Se estes comportamentos não são já bem vistos, por que é que são cada vez mais recorrentes?
Não sei se existem cada vez mais protestos ou se têm cada vez mais mediatização. Agora, temos acesso a mais notícias deste tipo: pelo facto de haver mais mediatização, há mais exposição. E a verdade é que grande parte destes jovens gostam de ter palco e visibilidade e, sabendo que está uma televisão ou uma rádio e que vão ser notícia, há uma ação. E como não há uma penalização deste tipo de manifestações ambientais, pode-se ultrapassar um conjunto de regras. Politicamente, é incorreto proibir ou prender, até porque se trata de ações em prol do ambiente e a “causa era boa”. Há um mix entre a questão do comportamento e a questão da visibilidade e da notoriedade pelos órgãos de comunicação social.
Face a estes últimos acontecimentos que tem originado muitos protestos, qual deve ser o papel dos decisores políticos?
Não é possível proibir a palavra. Mas há muitos exemplos em que temos Associações Ambientais a proferir um conjunto de disparates que não são verdadeiros. E aqui deveria haver a outra parte, isto é, um especialista a contrapor o que foi dito e isso não acontece. Um jornalista não precisa de ser especialista, mas deveria procurar o outro lado da verdade e ouvir quem de verdade percebe. O resultado é que a mensagem que chega às pessoas é mentira e não corresponde à verdade e, hoje em dia, o que é notícia e o que é transmitido passa a ser verdade.
No papel de formador e de autor de vários artigos e com uma vasta experiência na Sondar, qual a sua opinião sobre estes últimos acontecimentos?
Tendo alguma capacidade de leccionamento posso dar uma visão diferente de como são as coisas. E o mundo não está perdido: não é preciso ser-se radical, mas sim obter um equilíbrio. Por exemplo, no meu dia-a-dia vou de bicicleta ou a pé para o escritório e este tipo de comportamento pode equilibrar com outros menos bons para o ambiente, como andar de carro, algo que tem consumos altos.
E como conseguir obter esse equilíbrio nos jovens?
Esse equilíbrio surge do conhecimento. O que leva a esse desequilíbrio é a ignorância e o desconhecimento sobre como as coisas funcionam: se olharmos para os ambientalistas mais radicais, nem sequer estão na área do ambiente e do clima. São manifestantes pelo ambiente e, como não conhecem os fenómenos atmosféricos, decidem manifestar-se e não sabem como se deve agir para melhorar. Nada melhora com manifestações, mas sim com ações em prol do ambiente. Grande parte [dos ambientalistas têm] é mesmo falta de conhecimento, acabando por levar a ações radicais. As “frases feitas” de, por exemplo, “Quero Salvar o Planeta”… todos queremos isso! Mas, enquanto seres humanos, estamos na terra para viver e o planeta está aqui para ser usado, mas tem de ser usado com moderação e com equilíbrio.
*Esta entrevista foi publicada na edição 102 da Ambiente Magazine.