O projeto europeu AeroSolfd foi apresentado nas instalações do Metro de Lisboa, nesta sexta-feira, 27 de outubro, e a Ambiente Magazine foi conversar com Dalila Antunes, responsável pelo projeto em Portugal e Membro Fundador e colaboradora do INTEC, para conhecer melhor a ideia.
Qual o principal objetivo do projeto AeroSolfd?
O projeto tem como objetivo central diminuir as partículas no ar, através do desenvolvimento de soluções adaptadas ao setor dos transportes, ao adaptar tecnologias já existentes às necessidades do projeto, neste caso, veículos de passageiros e pesados, como autocarros e pesados comerciais. Esta técnica denomina-se retrofit e é um dos aspetos centrais do projeto.
Que soluções serão aplicadas?
Há três soluções que estão a ser desenvolvidas e testadas. A primeira solução (“Retrofit Tailpipe Solutions”) é um filtro aplicado no sistema de escape dos automóveis ligeiros movidos a gasolina para captar e filtrar as partículas de combustão funcionando como um catalisador. A segunda solução (“Retrofit Brake Solutions”) consiste num filtro aplicado no sistema de travagem de veículos de passageiros que será modificado para utilização em veículos pesados. Este filtro capta as partículas nocivas emitidas pelos travões e funciona de forma passiva nos mesmos. Dentro do projeto, a aplicação deste sistema a transportes pesados é fulcral, visto que estes veículos emitem um número mais elevado de partículas dos travões, precisamente por serem mais pesados e terem um sistema de travagem maior. A terceira solução (“retrofit solutions for closed environments”) é um purificador de ar estacionário, eficaz, acessível e fácil de instalar que se espera reduzir cerca de 90% de partículas finas existentes no ar em locais semiabertos e fechados tais como estações de metro, autocarros e depósitos de autocarros.
Porquê as estações de metro de Lisboa para integrar o projeto?
No âmbito do projeto, é necessário testar uma das soluções que consiste em estações de purificação do ar em ambientes semi-fechados. Atendendo às políticas, práticas e investimento do Metro de Lisboa na área da sustentabilidade, e aos dados que a empresa detém relativamente às medições de qualidade do ar nas estações, o Metro de Lisboa surge automaticamente como parceiro natural do projeto.
Que resultados se espera ver a curto e longo prazo?
Os Termos de Referência solicitaram tecnologias que permitissem reduzir ou captar cerca de 90% das partículas emitidas. Este projeto procura demonstrar em que extensão é possível atingir estes resultados para diferentes tipos de tecnologias. Os resultados serão medidos através da avaliação das soluções a dois níveis: em primeiro lugar, através do teste de soluções e laboratório e em ambiente real para avaliar o sucesso das soluções na captura de partículas; em segundo, através da avaliação da sustentabilidade das soluções que estão a ser desenvolvidas, e que vai além do seu desempenho na captura de partículas, mas que avalia também a sustentabilidade dos processos produtivos e a circularidade dos materiais. Por outro lado, com o desenvolvimento das próprias tecnologias, que deverá ser o suficiente para que fiquem praticamente prontas a entrar no mercado.
Como está o cenário português no combate à redução de emissões de partículas relacionadas com os transportes?
Apesar de, atualmente, os valores de qualidade do ar na maioria das cidades portuguesas cumprirem os valores limite para as partículas finas (PM2,5), estabelecidos na Diretiva Europeia para a Qualidade do Ar, os mesmos estão acima dos valores limite propostos pela Organização Mundial de Saúde. Acresce que se prevê que a esperada nova Diretiva Europeia para a Qualidade do Ar acompanhe os limites propostos pela OMS, o que colocará um desafio às cidades portuguesas para o caso das PM2,5. Não existem muitas soluções para atuar a este nível, daí a relevância do projeto AeroSolfd.
Quais os reais impactos destas emissões?
Os estudos mostram que a poluição do ar é um dos principais problemas ambientais com que nos deparamos diariamente. As partículas finas, em específico, são capazes de penetrar até aos alvéolos pulmonares e têm um impacto considerável no desenvolvimento de doenças pulmonares e cardiovasculares crónicas, bem como na redução da função pulmonar das crianças. De acordo com a Agência Europeia do Ambiente , em Portugal, ocorrem, anualmente, cerca de seis mil mortes prematuras provocadas pela poluição atmosférica.