Um novo artigo científico ou livro azul elaborado para o Painel de Alto Nível para uma Economia do Mar Sustentável (High Panel for a Sustainable Ocean Economy) conclui que, através de uma melhor gestão e de inovação tecnológica, os oceanos podem fornecer seis vezes mais alimentos do que fazem atualmente – mais de dois terços da proteína animal necessária para alimentar a população mundial no futuro, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O livro azul foi apresentado hoje no Simpósio Internacional sobre Pesca Sustentável da FAO, em Roma.
Christopher Costello, autor principal do artigo e representante do Grupo de peritos do Painel de Alto Nível, afirma: “O mar tem um grande potencial por aproveitar, que pode ajudar a alimentar a população mundial nas próximas décadas. E a obtenção destes recursos pode ser feita com uma menor pegada ecológica relativamente a muitas outras fontes alimentares. Porém, a saúde e a riqueza dos oceanos andam de mãos dadas. Se mudarmos de forma rápida e profunda a maneira como gerimos as indústrias do mar, ao mesmo tempo que protegemos a saúde dos ecossistemas, podemos melhorar a nossa salvaguarda alimentar a longo prazo e os modos de vida de milhões de pessoas.”
“O futuro dos alimentos provenientes do mar”, da autoria de um respeitado grupo de cientistas que apoiam o Painel de Alto Nível para uma Economia do Mar Sustentável — um grupo de 14 chefes de governo –, avalia o atual estado e o potencial futuro da produção de alimentos de origem marinha.
Conclui que o mar pode ter um papel fundamental para a futura salvaguarda alimentar, devido ao caráter altamente nutritivo do pescado, que contém vitaminas, minerais, ácidos gordos ómega-3 de cadeia longa e outros nutrientes essenciais que não se encontram nas proteínas de base vegetal, nem nas de animais terrestres. Com as devidas reformas, as capturas de pesca poderiam aumentar 20% em relação às pescarias atuais e 40% em relação às capturas estimadas no futuro tendo em conta as atuais pressões de pesca. No entanto, o grande potencial de aumento da produção alimentar encontra-se na expansão sustentável da aquacultura marinha (maricultura).
Acelerar a produção de espécies de maricultura, como algas e mexilhões, que não dependem de alimentação direta, pode contribuir para aumentar o fornecimento mundial de alimentos, ao mesmo tempo que melhora a qualidade da água, criando habitat para a pesca selvagem e contribuindo para aumentar a resiliência costeira. As espécies de maricultura, como os peixes e os crustáceos, que se alimentam de farinha de peixe e de óleo de peixe provenientes das pescarias, podem ter igualmente um papel significativo no fornecimento futuro de proteínas, mas apenas se forem rapidamente encontradas fontes de alimento alternativas pelo setor e se os efeitos ambientais forem minimizados.
Manuel Barange, diretor do Departamento de Políticas e Recursos Pesqueiros e de Aquacultura da FAO, membro da Rede de conselheiros do Painel de Alto Nível, disse: “Para cumprir as nossas ambições de termos um mundo mais igualitário, mais próspero e salvaguardado em termos alimentares, a comunidade mundial tem de trabalhar em conjunto para acabar com a sobrepesca, para melhorar a gestão mundial das pescas e para dar prioridade aos métodos de maricultura de pequeno impacto. Isso aumentaria a salvaguarda alimentar e ajudaria a erradicar a fome, aspetos-chave para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.”
O presente livro identifica os principais obstáculos ao aumento de produção alimentar de origem marinha, incluindo questões ambientais, económicas e regulamentares fundamentais, e propõe um conjunto de medidas realistas para ultrapassar esses obstáculos. Fornece igualmente um enquadramento que os líderes e cientistas podem utilizar para uma tomada de decisões políticas e uma implementação informadas, tendo em conta o respetivo contexto regional ou local.
O presidente do Quénia, membro do Painel de Alto Nível, disse: “Os alimentos de origem marinha têm grande importância económica e social para o Quénia e para a restante África. Milhões de pessoas no Quénia e no continente africano dependem dos oceanos como fonte de rendimento, de emprego, de alimento, de proteínas e de outros nutrientes. Contudo, nenhum país conseguirá extrair sozinho o potencial que os nossos oceanos têm enquanto fornecedores de alimento para o futuro. É necessária uma visão conjunta mundial, centrada na sustentabilidade, bem como ações multilaterais e investimentos significativos que apoiem os países nos seus esforços de garantir empregos, alimentos e nutrição para milhares de milhões de pessoas.”