“Acabar com o desperdício!”. Esta é a grande missão da Phenix que, para tal, fornece um conjunto de soluções inovadoras que permitam quer à sociedade, quer às empresas juntarem-se de forma ativa e eficaz nesta luta. Afirma-se como sendo uma empresa com propósito, conectada com os valores da “Tech for Good” e da certificação “B Corporation”. Tem o compromisso de demonstrar que é possível colocar a preocupação com o impacto social e ambiental de um negócio no centro das empresas, sem para isso fazer quaisquer concessões quanto ao crescimento económico. “Temos orgulho em estar entre as empresas reconhecidas como B-Corp e ESUS (Empresa Solidária de Utilidade Social)”, afirma Frederico Venâncio, diretor-geral da Phenix Portugal.
Criada em França em 2014, a Phenix chegou a Portugal no final de 2016, inicialmente, apenas com o serviço de conversão de excedentes de grandes superfícies comerciais (como supermercados) em doações a IPSSs. Em 2019, em França, decidiram lançar a aplicação anti-desperdício alimentar e, em outubro desse mesmo ano, expandiram o projeto para Portugal: “Atualmente, o nosso negócio assenta nestes dois serviços, tendo vindo a expandir-se exponencialmente, quer em termos de abrangência geográfica, quer em termos de parceiros e instituições que apoiamos”, explica o diretor-geral, em entrevista à Ambiente Magazine.
Desde que a Phenix chegou a Portugal, já foi possível evitar o desperdício de mais de 11 milhões de refeições e de mais de 845 toneladas de produtos não alimentares: “Isto traduz-se também em evitar a emissão de mais de 15 mil toneladas de CO2 para a atmosfera”. Relativamente à Phenix app, o foco tem sido a “expansão para diferentes cidades portuguesas” e o “reforço da operação nos locais em que a aplicação já estava presente”, de forma a torná-la acessível a um público cada vez mais abrangente: “Começámos por lançar a app nas áreas da Grande Lisboa e Grande Porto, onde verificámos uma excelente recetividade”. Agora, em 2021, o investimento centra-se na chegada a outros pontos-chave do país: “A cidade de Braga foi conquistada em junho e, a mais recente, em julho, foi Aveiro”, refere. Atualmente, a empresa conta com mais de 900 estabelecimentos aderentes. No que se refere à vertente B2B e ao programa de doações de excedentes, Frederico Venâncio afirma que a Phenix atua em “todos os distritos de Portugal continental”, colaborando com “grandes superfícies comerciais e cadeias de produção e distribuição”, no sentido de “converter e direcionar os seus excedentes para a rede de mais de mil IPSSs parceiras”.
Para este ano, as metas e os objetivos são muito ambiciosos. Segundo o diretor-geral, é objetivo da empresa, alargar a operação, expandindo a aplicação anti-desperdício para mais cidades e, assim, aumentar a rede de parceiros nos pontos em que já atuam. Depois, “pretendemos ainda chegar aos 400 mil utilizadores ativos”, ou seja,” utilizadores que efetivamente estão preocupados com o desperdício alimentar e lutam ativamente contra o mesmo”, acrescenta. Por outro lado, a ambição é continuar a crescer no segmento “B2B”, equipando cada vez mais empresas com o “conhecimento, recursos e suporte necessários” para que possam fazer do combate ao desperdício uma das suas prioridades: “Estamos também a desenvolver uma ferramenta direcionada para a gestão de stocks e de quebras, que será mais um forte complemento à nossa atuação junto do tecido empresarial”. Em termos de metas concretas, tendo já evitado o desperdício de mais de 11 milhões de refeições e de mais de 845 toneladas de produtos não alimentares, a previsão é “duplicar estes valores” até ao final deste ano, sucinta.
[blockquote style=”2″]Regulamentação, tecnologia e mudança de mentalidades[/blockquote]
Questionado sobre os números exatos sobre o desperdício em Portugal, Frederico Venâncio refere que esse é um tema que a empresa tem estado a trabalhar: “Queremos apurar dados precisos que nos permitam ter uma melhor visibilidade sobre a verdadeira dimensão deste problema”. Ainda assim, ao dia de hoje, é conhecido que, a nível mundial, um terço dos alimentos que produzimos são desperdiçados: “No nosso país, um milhão de toneladas de alimentos acabam no lixo, todos os anos, o equivalente a cerca de 93kg por habitante. 32% deste valor é produzido pelo consumidor final”. Ao nível da restauração, são desperdiçadas “50 mil refeições” todos os dias: “São números impressionantes que representam a realidade em que vivemos e que nos levam a concluir que é realmente urgente mudar mentalidades e comportamentos”. O problema do desperdício, alerta o responsável, “é um problema muito maior do que muitos pensam: o nosso papel enquanto empresa a atuar nesta área é também o de educar e de sensibilizar para a necessidade de seguirmos um caminho conjunto neste combate”.
E como se pode acabar com o desperdício alimentar no país? Para Frederico Venâncio, a resposta passa pela conjugação de três fatores: “regulamentação, tecnologia e mudança de mentalidades”. Em primeiro lugar, um dos maiores “entraves” na questão do desperdício é, segundo o responsável, a “falta de regulamentação que beneficie as boas práticas nos negócios e o investimento, por parte do comércio, numa venda eficiente e não numa política de montras cheias”. O desperdício é, assim, um “absurdo social, económico e ecológico”, onde “pouco se faz ainda em relação a isso”, a este nível, atenta. Paralelamente, pode-se e deve-se tirar mais partido dos “recursos tecnológicos” e utilizá-los a favor do combate a este problema: “A Phenix, por exemplo, trabalha todos os dias para desenvolver e disponibilizar ferramentas que permitam avaliar produtos em qualquer fase do seu ciclo de vida, desde que são produzidos, passando pela sua distribuição e receção em loja, e até ao momento em que se aproximam do seu fim de vida”. É, por isso, fundamental que “existam dados” para que as decisões sobre a venda desses produtos possam ser informadas e adaptadas. Deste modo, “podem ser identificadas soluções como a possibilidade de doação, venda a preço mais reduzido em loja ou disponibilização dos alimentos na app da Phenix”, exemplifica. Por último, é essencial que todos se identifiquem com o problema e percebam a importância de participar ativamente na sua resolução: “Aqui, incluem-se a sociedade, o tecido empresarial e os órgãos governamentais”.
Embora a tendência seja de uma “evolução bastante positiva”, ainda existem alguns desafios, nomeadamente, o facto de Portugal ser claramente um país em “transição” no que toca a “boas práticas ambientais e alimentares”. E, apesar das gerações mais novas terem, cada vez mais, uma “real preocupação com estes temas”, o diretor-geral da Phenix para Portugal atenta na importância de existir um “maior envolvimento” por parte das empresas produtoras, distribuidoras e retalhistas neste combate: “Estamos convictos de que a forma mais eficaz de conseguirmos estar todos alinhados e 100% comprometidos nesta missão é através da implementação de regulamentações mais atrativas para quem efetivamente adota boas práticas e, claro, por meio de um esforço acrescido de sensibilização para aqueles que ainda não aplicam os melhores princípios para evitar o desperdício alimentar”. Ainda assim, o responsável nota que Portugal está “recetivo e crescentemente empenhado em mitigar o problema” do desperdício. Mas, nesta “missão” os líderes políticos devem atuar quer a nível local, quer a nível nacional. A nível local, por exemplo, a atuação das autarquias pode trazer impactos muito positivos: “Algumas já estão empenhadas em atuar neste combate, outras ainda não estão tão despertas para o problema”. Já ao nível nacional, o responsável reforça a importância de se trabalhar na” legislação efetiva” do tema do desperdício: “Tanto a nível local como a nível nacional, creio que se deve ainda apostar numa forte sensibilização e consciencialização junto de todas as faixas etárias, de modo a que, cada vez mais, haja uma ação coletiva contra o desperdício”, afinca.
Quais as expectativas para os próximos 10 anos?
Nos próximos 10 anos, se o desperdício alimentar não se tornar um tema obsoleto e desinteressante, seguramente vamos estar numa situação bastante precária. Sabemos que a disponibilidade de água potável tenderá a diminuir, que cada vez mais será difícil para as produções agrícolas subsistirem, devido às alterações climáticas, e que, se nada fizermos, o ponto a que chegaremos será devastador. Na Phenix, fazemos a nossa parte e estamos empenhados em continuar a desenvolver soluções e alternativas para os consumidores e para os parceiros com quem colaboramos, desde produtores e retalhistas, a estabelecimentos comerciais de quaisquer dimensões. Acredito que a questão do desperdício ocupará um lugar cada vez mais central nos próximos anos e que o único caminho é mesmo o da mudança de hábitos e comportamentos. Assim, mantenho-me otimista e creio que, com todo o trabalho que está a ser desenvolvido, e assumindo que a tendência será para reforçá-lo em todas as frentes, este tema não poderá continuar a ser um problema tão grave e dramático daqui a 10 anos.