Por Engª Adriana Reais Pinto, Administradora Não Executiva da Águas do Tejo Atlântico e International Policy expert
A cimeira mundial das alterações climáticas reuniu os países-membros da Convenção Quadro das Nações Unidas (UNFCCC) de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão. A COP29, colocou líderes de governo, empresas e sociedade civil, em busca de soluções tangíveis para a redução de emissões de gases com efeitos de estufa e com o grande objetivo desta edição em estabelecer o valor de ajuda financeira para a luta e adaptação às alterações climáticas.
Se por um lado a agenda de negociações de adaptação enfrentou desafios na COP 29, com o foco central no financiamento climático, por outro, a natureza inclusiva e multidimensional da COP manteve a simultaneidade de eventos que reflete as necessidades de uma audiência global.
A vasta gama de participantes com interesses e especializações diversas, com representantes de quase todos os 200 países signatários, promoveu a organização de múltiplos painéis temáticos e discussões técnicas. No pavilhão de Portugal, destaque para a sessão organizada pelo Grupo Águas de Portugal, considerando que a água precisa de ser vista como parte da solução climática para ajudar a criar políticas mais resilientes. O Pavilhão de Singapura apresentou um programa forte nesta temática, com a reutilização de água residual tratada a ganhar palco como um importante recurso para a economia e onde foi sublinhada a necessidade de inovação na governança. Também o Global Renewables Hub (IRENA) entregou um excelente programa com o segmento de alto nível na sessão “Gestão eficiente da água e energias renováveis offshore – uma oportunidade verde para a economia azul” partilhando o caso prático de Malta, entre outros. As oportunidades de parcerias e networking continuam a alimentar uma intensa agenda bilateral, permitindo a partilha de experiências bem-sucedidas e fortalecer colaborações.
De notar as observações de Charles Michel, Presidente do Conselho Europeu à data, que defendeu que o acordo de Paris deve constituir o nosso tratado de paz com a natureza, com princípios de cooperação, coragem, solidariedade e ambição. E tomar medidas em prol de uma transição justa e inclusiva.
Foi neste enquadramento que se realizou o COP29 – Women in Energy Transition Baku Dialogue 2024, organizado pela Women in Renewables Alliance, para destacar as contribuições das mulheres que estão a causar impactos substanciais no sector da energia e partilharem experiências práticas, abrindo coletivamente o caminho para uma indústria mais inovadora e diversificada. Tive oportunidade de ser oradora num painel de liderança deste evento “Cultivando os Líderes de Amanhã: Educar, Inspirar e Capacitar”, para discutir estratégias corporativas para cultivar a liderança, incentivar o ecossistema empresarial e explorar as melhores práticas do setor, reunindo insights das várias regiões do globo – América do Norte (Canadá), APAC (Austrália), Europa (Portugal) e MENA (Arábia Saudita).
Foram abordados os desafios do desenvolvimento em indústrias dominadas pelos homens, como a energia renovável (e podemos dizer que também envolve o setor da água) e partilhadas algumas estratégias-chave ao longo do caminho:
– Desafiando estereótipos: a visibilidade é fundamental para quebrar barreiras e inspirar outras pessoas, mas por vezes esta maior exposição pode tornar-se uma ameaça;
– Resiliência e adaptabilidade são cruciais e é vital envolver aliados;
– Coragem para viver alinhados com o que acreditamos e desenvolver o nosso potencial;
– Responsabilidade dupla: a empresa deve promover um ambiente de negócios saudável, de suporte, mas o indivíduo também tem a sua responsabilidade e vantagem em ter um forte referencial interno.
A transformação do setor exige soluções inovadoras e a garantia de que o talento certo está a ser desenvolvido para estas indústrias. Nutrir a liderança e incentivar o ecossistema de negócios, envolve partilha de conhecimentos que contribua para soluções mais eficazes e inclusivas. Portugal está a fazer este caminho, embora ainda tenha grandes desafios a ultrapassar para um ambiente de transformação eficaz nas empresas e para planear a longo prazo – porque é disso que estamos a falar aqui, é transformar a cultura das empresas e o ambiente de negócios. E tal requer tempo, profissionalismo e consistência.