Portugal tem pela frente o desafio de gerir melhor um terço do seu território ocupado por florestas mas o país corre o risco de, nos próximos anos, ter poucos quadros qualificados para o fazer. Na primeira fase, o curso de Engenharia Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro atraiu três candidatos, a que se somam os 20 que entraram na mesma licenciatura do Instituto Superior de Agronomia (ISA). “Se não há alunos, como vamos manter a funcionar os centros de investigação?”, questiona o catedrático Rui Cortes, da UTAD, citado pelo Público.
A importância da gestão do território floresta incluída para a diminuição do impacto dos incêndios, que em área ardida fazem já de 2016 o quarto pior ano das últimas quatro décadas, esteve bem presente nas múltiplas intervenções do primeiro debate do ciclo “A Floresta Portuguesa em Causa” organizado pelo Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagística da UTAD, em Vila Real.
Num país com 35% do território ocupado por floresta, detida esmagadoramente por privados, a invisibilidade do tema fora da “época” dos fogos atinge vários patamares. Um deles é o da formação, assinalou Rui Cortes. “A floresta só é assunto pelo seu lado trágico. E isto não atrai jovens”. Mas o decréscimo de alunos na engenharia florestal acompanha o despovoamento do interior e a litoralização da população, que se afastou, física e mentalmente, de um mundo rural do qual a floresta era parte integrante.
O presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Rogério Rodrigues, considerou essencial voltar a criar nas pessoas a noção do valor das áreas florestais.
O especialista em Ecologia e Gestão do Fogo, José Miguel Cardoso Pereira, docente do ISA, lançou um dos desafios do debate: que Portugal reflita sobre a sua “suposta vocação florestal” e se analise se não será melhor, face às capacidades do país, abdicar de 10% a 15% da área ocupada com floresta mal gerida criando zonas tampão que, com outras atividades, possam quebrar as manchas de ocupação contínua.
Américo Mendes, docente da Católica e responsável por uma Zona de Intervenção Florestal (ZIF) no entre Douro e Sousa, voltou a pôr o dedo na forma como os Governos abandonaram o apoio às ZIF, que apesar de serem supostamente responsáveis pela gestão de quase um terço dos 3,3 milhões de hectares de floresta tiveram acesso a financiamento apenas nos três primeiros anos e estão, na prática, paralisadas, salvo raras exceções.