O Governo da Nova Zelândia apresentou hoje um projeto de luta contra as alterações climáticas, para tornar o país neutro em carbono até 2050, mas que exclui parcialmente o setor agrícola vital para o país. “O Governo toma hoje medidas históricas sobre as alterações climáticas, o maior desafio que a comunidade internacional e a Nova Zelândia enfrentam”, declarou a primeira-ministra, Jacinda Ardern, citada pela Lusa.
Na apresentação da legislação, a líder trabalhista sublinhou que ignorar a questão seria “uma negligência” e “um fardo” para as gerações futuras. Este proposta vai permitir à Nova Zelândia contribuir para o objetivo planetário médio de manter o aquecimento climático abaixo dos 1,5 graus celsius em relação aos níveis anteriores ao período da revolução industrial.
As medidas incluem metas diferentes para o metano proveniente da criação de gado, e para todas as outras emissões de gases com efeito de estufa, causadas por transportes, indústrias e geração de eletricidade.
“A agricultura é muito importante para a Nova Zelândia, mas também deve ser parte da solução”, defendeu Ardern, apesar de a legislação não explicar claramente como se pode atingir a neutralidade carbónica até 2050, o que desencadeou as críticas dos ecologistas.
O metano gerado pela criação de gado representa cerca de um terço das emissões de gases com efeito de estufa no país, onde a agricultura é uma atividade fundamental para a economia neozelandesa, sobretudo para as exportações.
O documento, agora publicado, prevê a criação de uma Comissão das Alterações Climáticas para ajudar a Nova Zelândia a atingir este objetivo, através da elaboração de “orçamentos de emissões” quinquenais. O projeto da primeira-ministra de centro-esquerda vem concretizar uma promessa de campanha do Governo, eleito há 18 meses. O Executivo já prometeu plantar mil milhões de árvores em dez anos e garantir que a rede elétrica funcione inteiramente com energia renovável até 2035.
A proposta de lei, que deve ser votada pelo Parlamento até final do ano, prevê uma redução de 10% na produção de metano até 2024. O ministro para as Alterações Climáticas neozelandês, James Shaw, afirmou que o Governo “teve em conta os dados científicos” e as preocupações dos industriais para determinar “um objetivo específico para o metano” agro-pecuário.
A federação dos agricultores criticou já a proposta. “Sejamos claros, a única forma de atingir os objetivos propostos é reduzir a produção. Não existem tecnologias mágicas”, declarou o vice-presidente Andrew Hoggard. “Neste momento, não temos qualquer ideia sobre como atingir as reduções propostas sem abater um número significativo de cabeças de gado”, sublinhou.
O Governo de Ardern declarou que a legislação é “para ser cumprida”, mas a Greenpeace Nova Zelândia afirmou já que o documento não especifica como alcançar os objetivos, o que torna a “legislação inoperacional”. “Estamos perante uma legislação ambiciosa à qual foram arrancados os dentes”, disse o diretor geral da organização não-governal de defesa do ambiente. “Ladra, mas não morde”.