Uma equipa que envolve entidades de Portugal e da Galiza (Espanha) está a desenvolver tecnologias para uma limpeza das florestas mais eficiente, melhorando a prevenção e diminuindo a propagação dos fogos, além de criar novos postos de trabalho.
Em declarações à agência Lusa, Filipe Neves dos Santos, investigador do Centro de Robótica Industrial e Sistemas Inteligentes do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, disse que o projeto, designado BIOTECFOR, pretende desenvolver máquinas que facilitem a limpeza da floresta no Norte de Portugal e Galiza, reduzindo o esforço aplicado pelos operadores e tornando essas operações mais seguras. Este projeto resulta de uma parceria liderada pela Forestis – Associação Florestal de Portugal e que tem como parceiros o INESC TEC, a Associación Forestal de Galicia e o Centro Tecnologico de Automoción de Galicia.
Com o BIOTECFOR pretende-se abordar a limpeza da floresta, “que tem um elevado custo e que exige mão-de-obra intensiva”, podendo ser visto como um contributo positivo para a prevenção dos fogos, afirmou Filipe Neves dos Santos. Nesta vertente do projeto, tencionam fornecer mais autonomia às máquinas, que serão supervisionadas pelos operadores, dotando-as de dispositivos que cortem a vegetação das árvores e façam um pré-processamento da mesma, reduzindo assim o custo de transporte até ao local de processamento.
Com a biomassa recolhida nessas limpezas, como é o caso do mato, do tojo, de pequenas giestas e de árvores com até de dez centímetros, localizadas entre as árvores principais, pretendem igualmente criar novos materiais compósitos. A finalidade “não é olhar só para o produto final, em que essa biomassa é queimada para gerar energia, mas sim procurar criar materiais biodegradáveis e amigos do ambiente, como plásticos, que podem utilizados na indústria automóvel, em eletrodomésticos e outros equipamentos”, contou o investigador.
“Acreditamos que este projeto é um contributo positivo, não só para a economia, pois estamos a criar dinâmicas que podem levar a novos serviços em torno da floresta, mas também para evitar a propagação de fogos florestais, afirmou. Embora Filipe Neves dos Santos considere que estas tecnologias não sejam a solução para o problema dos fogos florestais, acredita que é “uma das vertentes para essa solução”.
“Uma das coisas que identificamos é que a limpeza florestal, para os proprietários dos terrenos, é vista como um custo e muitos deles não têm posses para fazerem essa limpeza”, revelou. No entanto, continuou o investigador, criando “uma dinâmica em que a limpeza não seja um custo mas sim um benefício para os proprietários, muita da biomassa que se encontra nas florestas e que provoca fogos enormes pode ser aproveitada para novos mercados, reduzindo os fogos”.
Na fase atual do projeto, os responsáveis estão a identificar um conjunto de tecnologias utilizadas na Europa, que possam ser adaptadas para operar na realidade portuguesa, “cujos terrenos são muito acidentados” e dificultam a entrada de máquinas, acrescentou. Iniciado em janeiro de 2017, o projeto tem uma duração estimada de três anos e um orçamento total de 1,3 milhões de euros, cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) em 75%.