No Tejo, o peixe está mais morto que vivo e os autarcas pedem medidas
“Já não se pode fazer a célebre sopa de peixe” do rio Tejo, queixou-se anteontem a presidente da Câmara de Nisa, Maria Idalina Trindade, na comissão parlamentar do Ambiente, Ordenamento de Território, Descentralização, Poder Local e Habitação. Segundo o Público de hoje, a autarca deslocou-se ao Parlamento na companhia dos seus colegas de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Gavião, Mação, Abrantes e Constância, para expor as suas apreensões sobre o estado atual do rio Tejo.
Idalina Trindade disse que o peixe só está em condições de pescar “acima da barragem de Cedillo”, em Espanha. Daí para baixo, “a pesca não existe ou, quando existe, o peixe está mais morto do que vivo”, acrescentou o presidente da Câmara de Gavião, José da Silva Pio, descrevendo o cenário que observou quando se deslocava para Lisboa: “O tejo transbordava uma espuma branca que depois dá lugar a água negra”.
O problema tem a fer com muita coisa, prossegue o autarca, imputando as causas maiores aos “transvases que retiram água ao rio”. A operação que é realizada pelas autoridades espanholas acaba por se traduzir na falta de caudal no troço português, que por sua vez arrasta a poluição produzida por fábricas a montante, em Vila Velha de Ródão, presumem alguns autarcas.
Idalina Trindade quer saber o que se passa com os processos de contraordenação em curso e o que acontece aos agentes poluidores. Segundo Ana Mesquita, deputada do PCP, cerca de 60% das contraordenações “nem sequer seguem por falta de provas”. A deputada salienta que “já existe um mapa dos principais focos poluentes”. O problema é que as descargas “acontecem aos fins-de-semana” e a Agência Portuguesa do Ambiente não tem pessoal para fiscalizar.
A degradação ambiental do Tejo está também a suscitar um forte mal-estar nos concelhos ribeirinhos em território espanhol. Cerca de 30 autarcas vão reunir-se hoje em Talavera de la Rena para criar uma plataforma de defesa dos rios Tejo e Alberche.