Cientistas europeus estão reunidos em Lisboa, até quinta-feira, para encontrar soluções que diminuam a poluição causada pelo azoto. Por ano, perdem-se 14 mil milhões de euros na União Europeia por má gestão deste gás, na agricultura. O NitroPortugal, cuja primeira reunião decorre desde segunda-feira, visa colocar Portugal na liderança da boa gestão do azoto, através de uma abordagem multidisciplinar, que junta os diferentes elos do ciclo de produção do azoto. Neste primeiro workshop, o cheff Chakall prepara uma refeição com baixa pegada de azoto e os cientistas discutem os impactos das perdas de azoto para a água e no solo.
O projeto europeu é liderado pelo Instituto Superior de Agronomia e pretende realizar o diagnóstico dos níveis de poluição azotada na água, nos solos e no ar e calcular o seu impacto nos ecossistemas e na biodiversidade em Portugal. Participam na iniciativa cientistas do Centro de Hidrologia e Ecologia, do Reino Unido, e da Universidade de Aarhus, na Dinamarca. Investigadores e governos estão focados na melhoria da eficiência do uso do azoto na agricultura e na pecuária, que são as principais fontes de emissões de azoto reativo para o ambiente.
Em Portugal, o setor primário contribui com 87% do total de emissões de azoto para os cursos de água – rios, lagos, etc -, sendo os efluentes de origem animal a principal fonte de poluição, de acordo com dados revelados pela Agência Portuguesa do Ambiente.
“Estimamos que apenas 20% do azoto usado na agricultura na União Europeia (UE) é aproveitado pelas plantas, o restante perde-se e é uma fonte de contaminação dos solos, da água e do ar”, explica Mark Sutton, investigador do Natural Environment Research Council, do Reino Unido, um dos coordenadores do NitroPortugal. “Queremos perceber qual é o impacto real no azoto em Portugal, e como podemos poupar milhões de euros através de melhores práticas de gestão do azoto, que irão contribuir para um melhor desempenho da economia portuguesa”, acrescenta o investigador.
Os cientistas calculam que o uso excessivo de fertilizantes à base de azoto na Agricultura gera prejuízos de cerca de 14 mil milhões de euros na economia da UE, ou seja, o equivalente a 25% do total do orçamento da PAC (Política Agrícola Comum).
A Dinamarca e o Reino Unido são um bom exemplo no que respeita à monitorização e à implementação de políticas de controlo das perdas de azoto para o Ambiente. A Dinamarca implementa há 30 anos uma política rigorosa que lhe permitiu diminuir em 50% a concentração de azoto nos cursos de água, através da regulamentação da atividade agrícola e da sensibilização dos agricultores para a adoção de boas práticas, nomeadamente a instalação de culturas fixadoras de azoto no Inverno, a criação de zonas tampão junto aos cursos de água e a instalação de charcas para depuração das águas residuais nas parcelas agrícolas.
Baixa pegada de azoto
“Para reduzir a pegada de azoto é importante que cada um de nós reforce pequenos gestos diários, contrariando uma atitude excessivamente consumista”, afirma Cláudia Marques-dos-Santos Cordovil, professora do ISA e coordenadora do NitroPortugal.
A escolha de produtos agrícolas com certificação ambiental, o consumo de carne nas doses recomendadas pelos nutricionistas, e a redução do desperdício alimentar ou ainda a restrição do uso do automóvel nas deslocações diárias são exemplos de comportamentos a adotar. Os investigadores do ISA desenvolveram um website – www.pegadadoazoto.pt – que permite ao cidadão comum calcular a sua pegada de azoto, baseado em informação sobre comportamentos de consumo.
Esta noite, o chef Chakall recebe os participantes do workshop, no restaurante El Bulo, em Lisboa, num jantar com baixa pegada de azoto. A refeição será confecionada seguindo o princípio da “Dieta Demitariana”, que consiste em utilizar metade da dose de carne habitual na confeção dos pratos, com o propósito de proteger o ambiente. A carne usada na confeção do jantar provém de animais criados em pastagem – sistema extensivo – e será acompanhada de leguminosas e outros legumes.
Que impacto tem o azoto na nossa vida?
O nitrogénio (azoto) é um nutriente essencial à vida na Terra, existe em abundância na atmosfera (78% do ar que respiramos é azoto elementar), intervém na construção de diversas moléculas, como o ADN, as proteínas, as enzimas ou as vitaminas, e é o elemento mais importante para a nutrição das plantas (sob a forma amoniacal e de nitratos). O nitrogénio torna-se um problema a partir do momento em que as suas formas reativas – iões e gases – são libertadas em doses excessivas para o ambiente, gerando impactos negativos no solo, água, ar e na biodiversidade.