O meteorologista Piers Corbyn recusou hoje em conferência na Faculdade de Letras da Universidade do Porto que os “negacionistas” das alterações climáticas tenham ligações ao “lobby” das energias fósseis, refere a Lusa.
“É um monte de mentiras. Os defensores do CO2 são financiados por petrolíferas e as petrolíferas apoiam na totalidade a teoria de que o Homem faz o clima mudar, para obter mais lucros. Se lermos os seus ‘sites’, vemos que apoiam as ações contra as emissões de CO2 desde que haja um preço consensualizado que represente uma subida do preço do petróleo, duplicando os seus lucros”, sublinhou.
Em declarações à margem da conferência de “negacionistas” no Porto, o irmão mais velho do líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, defendeu também que não há nada de invulgar nos fenómenos meteorológicos que estamos a assistir, referindo que estas mudanças drásticas do tempo são possíveis de identificar ao longo dos últimos cem anos.
“Sempre houve inundações e seca extrema, não há nada de invulgar que se esteja a passar agora quando comparado com outros tempos, com a exceção das correntes de ar rápidas e extremas que estão a acontecer no mundo inteiro”, referiu.
O meteorologista inglês e dono da empresa WeatherAction disse, contudo, que estes fenómenos vão aumentar e que “o mundo vai ficar, em média, mais frio nos próximos 20 a 30 anos e entrar numa mini-idade do gelo”.
Piers Corbyn é presença recorrente em conferências de movimentos “negacionistas” e em 2009 foi orador num evento organizado pelo Heartland Institute, um think-tank conservador norte-americano que nos anos 1990 trabalhou com a tabaqueira Philips Morris, negando a existência de uma relação entre o fumo do tabaco e o cancro do pulmão.
Entre os conferencistas está também investigador sueco Nils-Axel Mörner que, em setembro de 2005, participou num seminário sobre mudanças globais, variações do nível do mar e dinâmica costeira na Universidade do Porto.
Mörner defende a existência de um “lobby das alterações climáticas” e argumenta que os níveis do mar têm estado a oscilar, tal como no presente, ao longo dos últimos três séculos.
A conferência “Basic Science of Climate Change”, que decorre até sábado na Faculdade de Letras, levou cerca de 60 cientistas de várias instituições do país, a subscrever uma carta aberta ao reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, em protesto contra a realização desta conferência.
Em comunicado enviado à Lusa na terça-feira, a Universidade do Porto esclareceu que a realização da conferência deste encontro “não significa que as posições assumidas pelos seus oradores e participantes sejam um reflexo da visão da Universidade do Porto sobre o tema em debate”.
Segundo as Nações Unidas, “as alterações climáticas estão a afetar todos os países em todos os continentes” e a perturbar as economias nacionais “hoje e ainda mais amanhã”.
Os padrões climáticos “estão a mudar, os níveis do mar estão a aumentar, os fenómenos climáticos estão a tornar-se mais extremos e as emissões de gases de efeito de estufa estão agora nos níveis mais altos da história”.
Sem ação, alerta ainda a ONU, “a temperatura média da superfície do mundo provavelmente ultrapassará três graus centígrados neste século”.
A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas de Paris, em 2015, obteve o acordo de quase todos os países no sentido de travar o aquecimento global, limitando o aumento da temperatura a menos de dois graus celsius em comparação com a era pré-industrial.