Nasce Movimento Cívico para impedir construção de megaprojeto turístico no Curral das Freiras

O Curral das Freiras, uma das paisagens mais icónicas da ilha da Madeira e de Portugal é alvo de um “agressivo projeto turístico radical” nas suas montanhas que “destruirá o seu valor paisagístico e cultural”, projeto em consulta pública até 8 de abril no portal Participa.pt.

Para impedir o avanço deste projeto foi criado o Movimento Cívico “Contra o Teleférico no Curral das Freiras”: “Acreditamos que este projeto desrespeita normas e decisões de nível governamental nacional e supranacional, assim como desrespeita a ancestral herança social e cultural das populações vizinhas e da Madeirense em geral”.

Num comunicado, divulgado à imprensa, este Movimento refere que o projeto consiste na “construção de dois teleféricos, um deles o terceiro maior da Europa, um parque de aventuras radicais, um Zip-line, um restaurante tendo assim várias edificações modernistas de consideráveis dimensões, uma das quais com altura de quatro pisos, nas montanhas circundantes ao Curral das freiras, nomeadamente na Boca da Corrida e no Paredão classificadas como, Zona Especial de Conservação (Maciço Montanhoso Central) de Paisagem Protegida (Parque Natural da Madeira)”.

Orçamentado em 35 milhões de euros, o projeto será integralmente financiado por investimentos públicos, seja por fundos do orçamento regional, fundos europeus, incentivos e vantagens fiscais e que posteriormente serão entregues à exploração comercial privada: “Tal é uma imoralidade e infracção às regras do mercado”, alerta o Movimento, que que em poucos meses já conta com mais de 2300 aderentes no grupo de Facebook.

Acresce que o local de construção do projeto situa-se em Zonas da Rede Natura 2000, em áreas classificadas ZEC -Zonas Especiais de Proteção e dentro do Perímetro do Parque Natural Da Madeira: “Seiscentos anos de paisagem civilizada serão irremediavelmente destruídos sem um verdadeiro fundamento justificativo para além da exploração comercial agressiva e selvagem de um bem comum único”, lamenta o Movimento.

Para além disso, o projeto coloca ainda em risco a “sobrevivência de uma ave marinha”, em estado de conservação ameaçado, a “Freira-da-Madeira (Pterodroma madeira)” e o “morcego Madeira Pipistrellus”. As duas espécies classificadas como em “risco de extinção” ambas protegidas legalmente pela ordem jurídica portuguesa enquadrada na Diretiva Habitats. “O projeto teleférico interfere com as rotas de voo das duas espécies, para além de outras de relevância ecológica, e ocupa lugares de nidificação e áreas de alimentação, causando poluição sonora, visual e acústica e cria obstáculos invisíveis, a escala e aquém da sensibilidade das duas espécies altamente protegidas produzindo e potenciando riscos de embate com os cabos e com as cabines do teleférico”, lê-se no comunicado.

A tudo isto, o Movimento Cívico acrescenta a “ausência de estudos adicionais, requeridos por lei”, como relatado recentemente no parecer da Associação Observatório Paisagens e Panoramas.