Os números de venda de veículos elétricos ao longo do ano 2020 são muito representativos daquilo que pode e será o “crescimento normal e paulatino” da mobilidade elétrica em Portugal. Mas, mais do que isso, e tendo em conta aquilo que a pandemia da Covid-19 pode trazer, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, reforça que é tempo de “refletir e perceber que não faz sentido falar em saúde humana, sem falar ao mesmo tempo de saúde animal e ambiental”. E no momento em que se discute se a “saída da pandemia” vai traduzir-se na “vontade de voltar àquilo que tínhamos no passado” este é, assim, o momento de afirmar a sustentabilidade: “Mais relevante do que resolver esta tensão é de facto perceber-se que as políticas ambientais são elas mesmo que vão criar riqueza, bem-estar e emprego qualificado no futuro próximo”.
O ministro falou na sessão de encerramento da apresentação sobre o novo posicionamento e estratégia da MOBI.E ao mercado nacional. A sessão realizou-se ao longo da manhã desta segunda-feira, em formato online.
Do ponto de vista do responsável, há um conjunto de “investimentos sustentáveis” que vão permitir sair da posição “muito frágil em que nos encontramos” e que serão capazes de assegurar que “não vamos ganhar o futuro com soluções do passado”. É nesta linha de pensamento que Matos Fernandes se refere à mobilidade: “É responsável por 25% das emissões que o país produz”. E de todos os “subsetores da economia e da sociedade que contabilizam como aqueles em que tem que haver uma maior exigência” para Portugal ser neutro em carbono em 2050, o ministro diz que é a mobilidade e a eficiência energética dos edifícios os que mais preocupam: “Obrigam a investimentos das famílias e a mudanças de comportamento”. No entanto, o “número relativo à evolução de venda de veículos elétricos “são de facto um “bom exemplo” de que “as pessoas estão disponíveis ou tendencialmente disponíveis para mudar de comportamento” refere, destacando que “há claramente um caminho de aprendizagem”.
[blockquote style=”2″]Um quilómetro elétrico custa muito menos do que um a diesel ou gasolina[/blockquote]
Matos Fernandes recorda que, no final de 2015, a venda de veículos elétricos representava apenas 1% a 2% do volume de vendas de carros novos em Portugal: “E se olharmos para este ano, em setembro representaram 14,6% das novas vendas e ao longo do ano estamos nos 11,5%”. Portanto, quando houve uma “perda na venda dos veículos de combustão interna na ordem dos 43,5%”, os “elétricos puros e os híbridos plug-in subiram em 40%”, afirma. Embora seja notória a “mudança” o ministro reconhece que no “contexto direto o preço dos veículos ainda pesa no sentido em que os veículos elétricos são mais caros do que os veículos de combustão”. Mas, mesmo assim, é claro que “um quilómetro elétrico custa muito menos do que um quilómetro a diesel ou gasolina”, além de que a “manutenção é muita mais barata”, sustenta, evidenciando que “com o tempo se esbate a diferença do investimento inicial”.
Relativamente ao Governo, Matos Fernandes destaca, desde logo, o papel da manutenção do benefício fiscal à compra e apoio direto a essa mesma compra: “Vamos mantê-lo com a certeza de que este volume de veículos vendidos vai muito para além do que é o subsídio atribuído pelo ministério do Ambiente”. Da mesma forma, está incluído o “apoio à modernização da frota da administração pública”, acrescenta. Depois, há ainda uma outra dimensão que se prende com a infraestrutura e a sua gestão, destacando a importância de que a rede continue a densificar-se pelo país.
[blockquote style=”2″] Rede de infraestruturas rodoviárias deve ser aproveita para promover a mobilidade elétrica [/blockquote]
E a prova de que o Governo se mantém muito atento a estas matérias é que, segundo o ministro, a mobilidade elétrica ficou dentro do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES), apesar da saúde pública ser numa uma grande preocupação e uma parte dos apoios incluídos neste plano serem para apoios sociais. Aquela área terá assim vários projetos a concretizarem-se com alguma dimensão económico-financeira: “E, por isso, os três milhões de euros para 12 postos de carregamentos ultra-rápidos e com uma rede com 10 anos de carregamentos nas principais cidades são da maior importância”, vinca o ministro, reconhecendo que “cabe ainda ao Estado fazer algum investimento que, certamente, será feito”.
A “necessidade de se investir na ferrovia” também se tornou um “compromisso claro” do Governo na área da mobilidade mas Matos Fernandes considera que a rede de infraestruturas rodoviárias deve ser aproveita para promover a mobilidade elétrica no alcatrão: “Vejo com muitos bons olhos e muita alegria os projetos que me são comunicados para permitir que se rode elétrico no alcatrão”.