“Na bioeconomia temos caminho para andar e oportunidades para agarrar”, declara Inês Costa
A nível global, a indústria têxtil é responsável pelo consumo anual de 53 milhões de fibras naturais e sintéticas. E, segundo a Agência Europeia do Ambiente, cerca de 70% desses resíduos acabam destruídos. Este foi um dos alertas que Inês dos Santos Costa, secretária de Estado do Ambiente, quis deixar no Seminário de debate sobre Bioeconomia, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e presidido pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes.
Mas a indústria têxtil é apenas um dos muitos exemplos: “É preciso perceber, perante os desafios e limites que existem no planeta, que não podemos olhar unicamente para a ‘árvore’. Temos de ver a ‘floresta’ como um sistema diverso”. E, acrescenta Inês Costa é “unilateral analisar a importância da bioeconomia circular unicamente do ponto de vista das alterações climáticas ou de sumidouros de carbono”, existindo “um sem número de outros fatores que temos de ter atenção” se de facto “queremos ter uma indústria competitiva e sustentável no longo-prazo”.
Para que uma indústria seja verdadeiramente sustentável e competitiva no longo-prazo, a valorização é crucial: “Temos de pensar o que é a criação de valor para a indústria nacional”. E, atenta Inês Costa, o “preço baixo não é necessariamente a opção ideal para dizermos que somos competitivos”, mas sim “se o produto tem maior valor acrescentado”. Além do mais, “o consumidor não decide quais os materiais que são usados”, apenas “decide no momento da compra”, sendo que “estamos dependentes das soluções que nos colocam à frente”, refere.
Outro alerta centrou-se na importância que deve ser dada aos centros de Biorrefinaria: “O maior potencial está na valorização do material que esses centros poderiam gerar sobretudo a partir dos materiais residuais”, declara.
Por fim, a secretária de Estado do Ambiente lembrou as “metas concretas” para as quais a indústria nacional, nomeadamente, o setor têxtil, tem que estar em alerta, pensando em “modelos de negócio que permitam ajudar o país a cumprir” tais desígnios. Até 2025, vai ser obrigatória a recolha de roupa: “É preciso que a indústria nacional comece a olhar para esta exigência também como uma oportunidade para desenvolver soluções de negócio”, refere a secretária de Estado, acrescentando que a proibição de destruição de material de biorresíduos será implementada até 2026, altura em que também será proibida a colocação de biorresíduos em aterro. Isto significa que “vão existir grandes quantidades de material que vão ter, necessariamente, que encontrar soluções de valorização”, alerta.
Inês Costa não tem dúvidas de que o esforço do PRR e outros apoios terão que ser “vistos e tidos em consideração” nas estratégias de desenvolvimento das indústrias nacionais: “Na bioeconomia temos caminho para andar e oportunidades para agarrar”.