Professor de Economia na Universidade Católica do Porto, Américo Carvalho Mendes assinou um estudo que, há mais de uma década, se propôs avaliar o valor económico da floresta portuguesa. Em entrevista ao Público, Carvalho Mendes diz que é impossível erradicar os incêndios da realidade portuguesa, mas que é viável melhorar a gestão florestal, se as políticas públicas, a investigação técnica e as práticas económicas se organizem em torno da estrutura fundiária da floresta – e não de costas voltadas para ela.
Segundo o responsável, ainda que não tenha feito as contas, é certo que a floresta terá hoje em Portugal um valor económico mais baixo do que há dez anos atrás. “Não refiz as contas, não me atrevo a avançar um número. Mas com certeza que será menos. Em termos reais, de certeza absoluta. E temo que em termos nominais também. Mas não me atrevo a avançar um número”, afirma o responsável, acrescentando que “tem havido um declínio da floresta de pinheiro bravo. E sabemos que a sua substituição por parte de eucalipto, mesmo sendo uma espécie de crescimento rápido, não dá rendimento logo no primeiro ano. E a continuação dos incêndios também vai degradando outro tipo de produtos que a floresta dá”.
Na mesma entrevista, Américo Carvalho Mendes afiram ser um dos que “ acha que a máxima de Portugal sem fogos é uma estupidez”. “Nesta parte do mundo o risco de incêndio estará sempre presente, como outros têm risco de avalanches ou de erupções vulcânicas. O que é preciso saber é se estamos coletivamente organizados para fazer face a esse risco, prevenindo o que for de prevenir e minimizando os danos que daí decorrem. A resposta, como infelizmente sabemos, é que na área florestal ainda não chegámos ao ponto que seria necessário”. Segundo o responsável, “precisamos de construir, em termos organizativos, económicos e técnicos uma silvicultura preventiva adequada à estrutura fundiária que temos na floresta. Desde que começou a haver política florestal, há mais de 200 anos, que a estrutura fundiária não é tida em conta”.