“Música com Energia” é uma iniciativa que estimula a descoberta do potencial e da identidade artística nos jovens. O projeto surge da aliança entre o método de ensino da Skoola e a missão da Fundação EDP, de promover o debate e criação de conhecimento coletivo sobre os temas da sustentabilidade. A Ambiente Magazine conversou com Vanda Martins, administradora e diretora da área de Inovação Social da Fundação EDP, e Mariana Duarte Silva, diretora da Skoola, sobre o projeto que já conta com três edições.
Ao longo de uma semana, cerca de 30 jovens participam num workshop desenhado com o objetivo de criar ferramentas para pensar o futuro nos temas da sustentabilidade e da transição energética justa: “Nas duas edições anteriores foram trabalhados temas como as alterações climáticas no Oceano e no Ar”, refere Maria Duarte Silva. Já a terceira edição, que decorre de 17 a 21 de julho, o foco assenta em pensar sobre o que acontece à Terra: “Durante cinco dias, os jovens serão convidados a refletir, escutar, conversar e fazer música à volta do futuro do planeta, com o apoio de especialistas”, adianta a responsável, destacando a “participação de Susana Gaspar, professora da Escola Superior de Educação de Lisboa (IPL – ESELx) e de uma artista de teatro e ativista trabalha como educadora artística e gestora de projetos, normalmente com teatro comunitário e direitos humanos”. O último dia, será dedicado à “apresentação do resultado final num espetáculo sonoro e performativo na Central Tejo”, acrescenta.
Para Vanda Miranda, a junção de cultura e sustentabilidade nunca fez tanto sentido: “A cultura é um instrumento de desenvolvimento social, impulsionando a valorização individual e coletiva e contribuindo para a construção de conhecimento”. Aliás, já não é a primeira vez que a Fundação EDP recorre à cultura para promover a inclusão social e a sustentabilidade ambiental: “Em 2022, por exemplo, em parceria como o Iminente, desenvolvemos o projeto Bairros com Energia, promovendo workshops em quatro bairros camarários de Lisboa assentes na convicção de que as comunidades desempenham um papel chave na preservação e no desenvolvimento dos espaços onde estão inseridos, contribuindo para a construção de cidades mais coesas e sustentáveis”.
E, agora, no “Música com Energia”, “convidamos os jovens a desenvolverem conhecimento, reflexão e a transformar esse mesmo conhecimento e reflexão em expressão artística”, seja instrumental, de voz, ou performativa, precisa Maria Duarte Silva.
Os jovens são um público especialmente ligado aos temas da sustentabilidade
O projeto reveste-se de grande importância no sentido em que a vertente da promoção do conhecimento em temas de sustentabilidade e da transição energética justa é uma das prioridades atuais: “Conseguimos trabalhar esses temas com um público jovem de forma intensiva e inclusiva”, afirma Vanda Miranda, destacando que a iniciativa integra um modelo que assenta na “criação de grupos heterogéneos de jovens com contextos socioeconómicos diversos”, o que implica “diferentes experiências” e. por isso, “um resultado mais rico”, algo que é conseguido através da “atribuição de bolsas para jovens acompanhados em instituições sociais parceiras da Skoola”.
Ao nível de contributos do “Música com Energia”, a responsável da Fundação EDP considera que os jovens são um público especialmente ligado aos temas da sustentabilidade: “Estes workshops têm como objetivo dar ferramentas e espaço para que os jovens trabalhem conjuntamente os temas e um palco onde possam expressar artisticamente as suas visões, inquietações e esperanças para o futuro”. Assim, o desafio é fazer como jovens “não reflitam apenas sobre a emergência climática”, mas também “criar objetos artísticos capazes de interpelar outros a fazer o mesmo, tornando-se os jovens nos atores da mudança”, acrescenta.
Nesta que já a terceira edição do projeto, o balanço não podia ser mais positivo: “Vemos na prática como é que a música pode ser uma ferramenta transformadora e veículo de mensagem para assuntos tão sérios quanto o futuro do nosso planeta”, refere Mariana Duarte Silva. E, depois, o mais importante que é “dar oportunidade e espaço ao jovens para fazerem a sua própria cultura”, isto é permitir-lhes, em conjunto, “criarem de raiz as suas opiniões, interesses e visões próprias: eles estão a ser questionados interiormente sobre aquilo que acreditam e estão a ser validados, por muito divergente que seja a sua opinião no grupo”. Portanto, dar-lhes esse “poder” de concretização artística e dar-lhes a palavra é a missão diária da Skoola: “No ´Música com Energia` esse resultado é visto em cima do palco no último dia, mas ao longo de todo o processo criativo e isso para nós é o principal objetivo, por isso o balanço é mais que positivo”, afirma.
Mostrar que é possível criar artisticamente em conjunto, em comunidade, seja qual for o grupo
Conseguir levar os jovens para o “Música com Energia” é algo que tem acontecido muito naturalmente, aliás a Skoola tem já uma reputação neste campo da educação não-formal que vai sendo validada pelos participantes, técnicos, pais e famílias que formam a comunidade: “Funciona há dous anos de forma regular mas desde a sua génese, em 2018, que organiza projetos educativos não-formais para as férias escolares e conta com uma equipa multidisciplinar com profissionais com muita experiência e com cursos e percursos internacionais ligados a esta área, o que nos concede bastante visibilidade e crédito”. É por isso, destaca a diretora da Skoola, que instituições como a “Santa Casa da Misericórdia, Casa Pia, Aga Khan, Casa do Gil ou Associação Sol sinalizam jovens para participar nestas iniciativas porque sabem que é uma semana completa com uma componente artística muito forte, de aprendizagem, partilha e conhecimento, que lhes acrescenta algo”.
Sobre esta terceira edição que já está prestes a começar, Mariana Duarte Silva está com um grande otimismo: “(Vemos) muito entusiasmo, alegria e algum caos à mistura, próprio do método que praticamos que é o da co-criação e inclui ouvir, dar voz e incluir todas as opiniões de um grupo de jovens de contextos sociais e económicos diferentes”.
Com o “Música com Energia”, o grande desejo é responder da melhor forma ao desafio da Fundação e, ao mesmo tempo, mostrar que é possível criar artisticamente em conjunto, em comunidade, seja qual for o grupo: “Que essa criação cultural é necessária para o desenvolvimento humano, para a criação de redes, empatia e para definição da personalidade das pessoas, desde crianças/jovens”. Em todos os projetos Skoola “há sempre um princípio que nos une a todos que é o da democratização da cultura e o facto de que o acesso a ela é um direito humano básico”, destaca Mariana Duarte Silva.
Já Vanda Martins expressa o desejo de, com este projeto, se consiga que “cada um destes jovens adquira mais conhecimento e que se sinta inspirado pelos temas da sustentabilidade, de forma a poder expressar artisticamente as suas visões”.
Foto: Joana Linda