As mudanças climáticas podem, teoricamente, trazer doenças tropicais para as zonas mais temperadas, inclusivamente para Portugal, embora seja ainda cedo para avaliar o que está em causa, defende o investigador Henrique Silveira.
Numa entrevista à agência Lusa, o investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) de Portugal lembrou os casos recentes de dengue na Madeira (1.079 casos entre 2012 e 2014 sem óbitos) e em Cabo Verde (mais de 21 casos com seis mortes em 2009). “É um risco teórico real. Se pensarmos que os mosquitos têm uma distribuição associada aos fatores climáticos, se os alterarmos, os mosquitos podem expandir a sua área geográfica”, sublinhou Henrique Silveira, admitindo, porém, que “ainda existe muita informação por comprovar sobre as consequências das alterações climáticas”.
Em Portugal, lembrou os casos de malária, também conhecida por paludismo, que foi erradicada em 1973. “Os casos conhecidos são todos importados, trazidos por pessoas que foram infetadas em países tropicais”, realçou. Na semana passada, um relatório conjunto da OMS e da UNICEF indicou que a taxa de mortalidade por malária baixou 60% desde 2000, mas ainda existem mais de três mil milhões de pessoas em risco de contrair a doença. A queda de mortalidade traduziu-se por 6,2 milhões de vidas poupadas nos últimos 15 anos, perto de seis milhões dos quais são crianças menores de cinco anos, o grupo mais vulnerável à malária.
O relatório “Achieving the Malaria Millennium Development Goal Target” revela que a meta da malária – que consta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) – de “reduzir para metade e começar a inverter a incidência” desta doença até 2015, foi alcançada de uma “maneira convincente”, com uma descida de 37% dos novos casos em 15 anos. Entre 2000 e 2015, a taxa de morte por malária dos menores de cinco anos desceu 65%, o que representa 5,9 milhões de vidas salvas. O relatório salienta a importância do financiamento global para o combate à malária, que aumentou vinte vezes desde 2000, mas ressalva que ainda não é suficiente, sendo necessário continuar a investir em redes mosquiteiras, no combate à resistência aos medicamentos, em inseticidas e nos sistemas de saúde africanos.