Mudança climática. Hoje fala-se dela, amanhã já não
O tema das alterações climáticas sofre hoje em dia, grandes oscilações na atenção por parte da opinião pública, como explicou ontem, em Lisboa, a socióloga francesa Michelle Dobré, na conferência “Alterações Climáticas: Impactos e Respostas Sociais”, noticia o Diário de Notícias. Ela estudou, justamente, a questão, partindo da imagem pública que as alterações climáticas ganharam em França na fase pré-COP 21 – foi nessa cimeira do clima, em novembro de 2015, que se conseguiu o Acordo de Paris – e a que a questão tem agora. A tal oscilação, com um pico alto no primeiro caso, e um vale profundo no segundo, lá está, bem marcada.
Michelle Dobré analisou, nomeadamente, a questão das alterações climáticas enquanto tema no atual debate político em França, no contexto das eleições presidenciais, e descobriu que ele é praticamente inexistente. “Evaporou-se”, afirmou a socióloga, explicando que, da dezena e meia de candidatos iniciais à presidência de França, “só um menciona claramente a questão: Jean-Luc Mélenchon”, da Frente de Esquerda (mais à esquerda dos socialistas).
Mas esta variabilidade, que segue perto a que se vê também nos media – estes tendem a dar mais atenção às questões climáticas nas datas certas das cimeiras do clima, ou quando os muito imprevisíveis fenómenos extremos fazem vítimas e estragos pelo mundo fora – não acontece só em França.
Em Portugal, o grupo de investigação da socióloga Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa verifica oscilações idênticas. Mas, nos inquéritos que o seu grupo fez sobre as alterações climáticas, sobressai também um dado interessante: os portugueses dos europeus que mais consideram as alterações climáticas como um problema de grande gravidade, mas também confessam maioritariamente que têm pouca informação sobre o tema. Para Luísa Schmidt, “esta contradição mostra sobretudo a necessidade de mais informação pública, rigorosa e acessível”.
Sobre o que fazer em relação às alterações climáticas, as pessoas mostram-se favoráveis, segundo os resultados dos inquéritos, à mudança do paradigma do consumo de massas, dizem estar dispostos a essa mudança, mas depois em termos de ações concretas, a maioria fica-se, sobretudo, pela reciclagem.