No estudo feito pela Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) e pela consultora Roland Berger que comparou três opções alternativas para localizar a pista complementar ao aeroporto de Lisboa, percebe-se que o Montijo é a única solução que permite ampliar a capacidade do espaço aéreo, aponta hoje o Público. Tanto Sintra como Alverca têm problemas de operacionalidade aeronáutica e de compatibilidade com a manutenção de operações civis e militares. Mas o Montijo é também a única alternativa que, na análise multicritério, chumba nas questões de “sustentabilidade ambiental”.
Os impactos da transformação do Montijo numa pista com mais movimentos, e, consequentemente, com um maior volume de tráfego, ainda vão ser estudados com maior profundidade pela ANA, a concessionária dos aeroportos portugueses. Até ao fim do ano, a concessionária deverá apresentar esse estudo, bem como as medidas de mitigação dos eventuais impactos. Mas, apurou o Público, o Governo está confiante que não impedirão o novo uso do aeroporto, já que o plano não passa por expandir a actual pista existente, e, com isso, poupa-se a zona de protecção especial que merece o estuário do Tejo.
A Reserva Natural do Estuário do Tejo situa-se nos concelhos de Alcochete, Benavente e Vila Franca de Xira e abrange uma área de cerca de 14 mil hectares, dos cerca de 44 mil hectares do estuário do Tejo. A importância do seu património natural foi oficialmente reconhecida pelo Estado português num decreto-lei em 1976. Desta forma, criou-se a reserva natural, para salvaguardar a sua biodiversidade.
Mas afinal qual é a riqueza biológica da Reserva Natural do Estuário do Tejo? Dentro da reserva, as margens do rio são recortados por esteiros, há mouchões, sapais, salinas e lezírias. Além destes habitats, existem moluscos, crustáceos e várias espécies de peixes, como o robalo e o linguado, ou ainda espécies tipicamente estuarinas como o caboz-de-areia e o camarão-mouro.
Aves são relevantes
As aves também são habitantes determinantes na riqueza biológica da reserva. “É uma zona muito importante. Acolhe populações de várias espécies, que são significativas a nível mundial”, diz ao Público o ecólogo Domingos Leitão, director executivo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. “O estuário do Tejo chega a ter mais de 200 mil aves e mais de 50 espécies”, afirma, explicando que qualquer zona húmida que tenha mais de 20 mil aves é “considerada muito importante”.
Entre as aves relevantes está o alfaite (Recurvirostra avosetta), que usa as salinas como habitat de nidificação e pode chegar aqui a constituir 25% da população invernante na Europa; a marrequilha (Anas crecca), que tem uma população invernante populosa na reserva; ou o pato-real (Anas platyrhynchos), que costuma ser abundante nos grandes estuários.
Também significativo é o pilrito-comum (Calidris alpina) — o estuário do Tejo chega a albergar nalguns anos mais de 1% da população invernante da costa oeste europeia; ou o flamingo (Phoenicopterus ruber), igualmente em grande número de exemplares no estuário, sobretudo no Inverno e no Outono. O maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa) tem no estuário do Tejo a sua zona de maior concentração em Portugal e o perna-longa (Himantopus himantopus), que possui uma população nidificante sobretudo nas zonas costeiras estuarinas a sul da bacia do rio Vouga, também faz da Reserva Natural do Estuário do Tejo a sua casa.
*Foto de Wilder