O MobFood (Mobilização do Conhecimento Científico e Tecnológico em Resposta aos Desafios do Mercado Agroalimentar) é um projeto de investigação e desenvolvimento tecnológico que procurou responder a desafios relacionados com a promoção de uma indústria alimentar nacional mais sustentável, resiliente, segura, eficiente na utilização dos recursos e centrada no consumidor. O projeto teve início em dezembro de 2017 e terminou em setembro de 2021, tendo um investimento total de 7.021.739,21 euros.
Dinamizado pela PortugalFoods, o projeto permitiu que empresas do setor agroalimentar e ENESIIs (Entidades Não Empresariais do Sistema de Investigação e Inovação), num consórcio de 43 entidades, dessem resposta a desafios lançados, com base em três grandes pilares de atuação: “Segurança Alimentar e Sustentabilidade”, “Alimentação para a Saúde e Bem-estar” e “Alimentos Seguros e Qualidade”. Em entrevista à Ambiente Magazine, Deolinda Silva, diretora-executiva da PortugalFoods, refere que o MobFood foi apoiado no âmbito dos Programas Mobilizadores: “É programa que assenta em apoiar projetos estratégicos de I&D, que visam a criação de novos produtos, processos ou serviços, com impacto na respetiva cadeia de valor, mas também com impacto multissectorial e que dada a sua dimensão permita acelerar a evolução científica e tecnológica nacional”. Desta forma, os objetivos subjacentes ao Mobfood assentaram em “desenvolver processos inovadores e produtos” que, para além de responder às exigências do mercado, fossem “seguros e de qualidade”, contribuíssem para o “bem-estar e saúde do consumidor” e garantissem, de um modo integrado, a “utilização eficiente e sustentável dos recursos”, incluindo resíduos; “aumentar a atividade de investigação e transferência de tecnologia no setor alimentar”, reforçando a “colaboração entre o setor empresarial e as entidades não empresariais” do sistema de I&I; “reforçar a capacidade de inovação e tecnológica” do setor; “colaborar para competir através da criação de novas sinergias e dinâmicas de colaboração” entre todas as entidades do setor; e “aumentar as capacidades e especialização das ENESIIs”, assegurando uma “maior aproximação ao mercado e responder a necessidades futuras” do setor.
Enquanto entidade responsável pelo projeto, a PortugalFoods foca-se em estimular e dinamizar projetos de investigação e desenvolvimento tecnológico, de modo a impulsionar a inovação do setor agroalimentar, promover a valorização económica do conhecimento e a cooperação entre as Entidades não Empresariais do Sistema de I&I e o tecido empresarial. Desta forma, o MobFood é um projeto mobilizador “que visa criar outputs com um importante conteúdo tecnológico e de inovação para toda a cadeia de valor, impactando de forma significativa não só no setor agroalimentar, o qual representamos enquanto líderes do Portuguese Agrofood Cluster, mas também a nível multissetorial”.
[blockquote style=”2″]Urgência da “digitalização” ou da “transformação digital” das empresas e do setor[/blockquote]
Sobre os resultados do MobFood, Deolinda Silva destaca a “valorização de proteínas, aromas, vegetais e efluentes provenientes de resíduos e do uso eficiente dos recursos”; a “produção de embalagens sustentáveis e com propriedades ativas para aplicações alimentares”; o “desenvolvimento de novas formulações alimentares para a produção de um kit de pequeno-almoço adequado à Geração Milénio, com produtos alimentares inovadores e nutricionalmente equilibrados”; a “implementação de novas práticas de higiene e segurança alimentar, na linhas de abate de suínos e saladas de 4ª gama”; o “desenvolvimento de novos produtos bioprotetores, bioconservadores e sustentáveis: biológicos e físicos”; o “desenvolvimento de novos produtos derivados de cereais com teor reduzido de acrilamida”; o “desenvolvimento de metodologias que permitem explicitar a origem e qualidade dos produtos alimentares e disponibilizar informação sobre autenticidade e rastreabilidade; construção de uma plataforma de rastreabilidade”; o “mapeamento e otimização de operações do setor agroalimentar, através da construção de dashboards de monitorização de sustentabilidade e colaboração, bem como de análise de oportunidades de backhauling; criação de ambientes e protocolos de prova em sistema de realidade mista”; a “implementação de ensaios de perfil sensorial dinâmico e avaliação da interação com a composição salivar”; a “implementação de capacete neurosensorial”; e a “formação de painel treinado para avaliação de fruta”.
Após o término do MobFood, a diretora-executiva da PortugalFoods partilha alguns dos alertas que devem ser tidos em conta por parte das empresas do setor alimentar, nomeadamente pela indústria, que deve estar preparada para as “alterações nos comportamentos e padrões de consumo”, assim como com “questões relacionadas com a melhoria da eficiência de utilização e valorização dos seus recursos e das questões ligadas à sustentabilidade”. Tão fundamental é também estar em “alerta” relativamente à “cadeia de abastecimento”, dada a “volatilidade, especulação e imprevisibilidade dos fornecimentos”, como o momento que hoje se atravessa, com dificuldades no “planeamento e gestão de matérias-primas, ingredientes, materiais de embalagem”, entre outros consumíveis, acrescenta. Ao nível das medidas que necessitam de ser tidas em conta, Deolinda Silva destaca a urgência da “digitalização” ou da “transformação digital” das empresas e do setor: “A adoção de novas tecnologias, a digitalização das operações fabris ao nível do chão de fábrica e ao nível da gestão são fundamentais para um setor mais preparado e mais resiliente”. Tratando-se de um setor composto maioritariamente por “micro pequenas e médias empresas”, a responsável reconhece que a “modernização tecnológica é mais difícil, devido ao esforço financeiro associado, mas é obrigatório para crescer”.
Atendendo aos principais pilares de atuação em que se baseia o MobFood, a diretora-executiva da PortugalFoods não tem dúvidas de que os resultados podem contribuir com “soluções para reduzir o desperdício alimentar, otimizar o uso dos recursos, valorizando economicamente resíduos, subprodutos e efluentes da indústria alimentar”, mas também com “embalagens mais seguras e mais sustentáveis”. Por outro lado, trata-se de um projeto que se focou nas questões da “segurança e da qualidade alimentar”, que muitas das vezes se relacionam com “perdas significativas”, refere, destacando ainda, o trabalho dedicado a “mapear os pontos críticos da cadeia de abastecimento”, onde é gerado o “desperdício alimentar”, desenvolvendo-se “ferramentas que auxiliem todos os elementos da cadeia a integrar boas práticas e formas de colaboração, como contributo para uma cadeia de abastecimento mais sustentável”.
Quais as perspetivas para o futuro?
“O Mobfood foi o maior projeto de I&DT desenvolvido para o setor agroalimentar. Com um consórcio representativo e com uma dimensão financeira e em recursos humanos, que o tornou um verdadeiro mobilizador, gerou parcerias e sinergias que vão perdurar para lá do projeto. Neste momento, está já em execução um novo projeto mobilizador que envolve 20 entidades e que está focado na temática do Cleanlabel, ou seja, no desenvolvimento de produtos mais naturais, mais saudáveis e mais transparentes para o consumidor. O futuro é manter a aposta na dinamização de projetos que têm verdadeiramente impacto no ecossistema alimentar nacional, como é o caso do Mobfood”.