A Missão Continente divulgou esta quarta-feira as conclusões do II Grande Inquérito sobre Sustentabilidade que contou com a coordenação científica do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. De acordo com os responsáveis, este inquérito surge com o objetivo de “procurar compreender o envolvimento dos cidadãos com o desenvolvimento sustentável”, nomeadamente no que respeita a “atitudes e comportamentos”, bem como identificar as “ações com maior potencial de aceitação junto dos cidadãos”. Este estudo teve a coordenação de Mónica Truninger & Luísa Schmidt e contou com a colaboração dos investigadores Susana Fonseca; João Graça Luís Junqueira; Pedro Prista.
Dimensões da Sustentabilidade
No que respeita às representações da sustentabilidade, verifica-se que é a relação com a natureza que estrutura o campo central de definição da sustentabilidade e da insustentabilidade.
Questionados pela definição de “Insustentabilidade”, os portugueses associam este tema com a problemática da “poluição dos oceanos”, seguida das “alterações climáticas”, da “degradação da natureza” e “aumento dos desperdícios”. Por sua vez, os itens relativos à “eficiência energética” e “agricultura intensiva” revelam ainda “limitações da opinião pública em integrar certas dimensões associadas aos critérios da sustentabilidade, cruciais para a transição energética e a sociedade de baixo carbono que se pretende”.
Quando confrontados com a questão de quais são as práticas mais problemáticas do ponto de vista da sustentabilidade, os portugueses mostram-se “muito sensibilizados com todas as práticas apresentadas”. Entre as que são consideradas mais problemáticas, em geral, estão presentes quase todas as que se relacionam com a afetação ambiental a nível global: “Poluição dos oceanos” (84,7%); “Destruição das florestas tropicais” (83,4%); “Aumento da poluição” (82,6%) e “Extinção das espécies” (82,4%).
Economia Circular – dos plásticos aos bioresíduos
Portugal está perante um enorme desafio decorrente das metas europeias recentemente aprovadas na área dos resíduos urbanos, em particular na recolha seletiva de bioresíduos e metas de reciclagem em geral. Surgem também desafios na área da gestão do plástico, com medidas adotadas ao nível da União Europeia no âmbito do Pacote Economia Circular. O inquérito procurou assim mensurar quais as medidas a que os portugueses são mais sensíveis, bem como qual a abordagem geral ao tema do plástico que consideram dever ser privilegiada.
Com base em estudos recentes do Eurobarómetro, lê-se no inquérito que os europeus, e os portugueses em particular, “estão muito preocupados com o impacto que os plásticos podem estar a ter na sua saúde e no ambiente”.
No que diz respeito às práticas já mais usualmente desenvolvidas para reduzir a quantidade de plástico no ambiente, “levar sacos ou embalagens de casa quando vou comprar frutas e legumes” é a única onde a efetivação da prática é a resposta mais comum, o que é, aliás, consonante com o resultado do inquérito de 2016 em que se verificara que os portugueses tinham aderido massivamente à eliminação dos sacos de plástico.
Sobre a presença dos micro-plásticos nos peixes, o inquérito indica que cerca de metade dos portugueses (54,6%) reconhece a existência do problema mas apenas uma minoria integra esta informação nas suas escolhas quotidianas sobre o consumo de peixe (22%). Na generalidade, todos têm conhecimento do problema. No entanto, desconhecem até que ponto este é um problema que afeta o pescado nacional (40,5%).
A par do tema do plástico, avaliou-se o destino que é habitualmente dado aos resíduos orgânicos, bem como a disponibilidade para alterar as suas rotinas no sentido de promover o aproveitamento dos resíduos orgânicos numa lógica circular, seja através de soluções locais, seja através de soluções centralizadas. O inquérito regista que 23% dos inquiridos declara já utilizar restos de comida para compostagem ou alimentação dos animais. De resto, uma larga maioria está disponível para colaborar no aproveitamento de bioresíduos, ainda que a solução possa variar consoante a situação. A resposta que mais se espera “não está tanto na transformação das práticas individuais mas da sua integração num sistema de recolha assumido pelo Estado”.
De qualquer modo, é de registar que apenas uma pequena minoria (11%) revela desinteresse em colaborar na recolha seletiva de bioresíduos ou no seu tratamento ao nível local (compostagem doméstica ou comunitária).