Em declarações à Lusa à margem de um seminário sobre economia circular em Lisboa, João Pedro Matos Fernandes afirmou esperar que Espanha comunique “pelos canais diplomáticos” a decisão, salientando que o anterior executivo espanhol de direita “nunca quis envolver Portugal nesta decisão”, que afetaria potencialmente os cidadãos portugueses que vivem perto da fronteira.
A agência Efe noticiou na segunda-feira que o executivo do PSOE confirmou o abandono do projeto promovido pela empresa Berkeley em Alameda de Gardón, na região de Salamanca.
Numa resposta dada pelo Governo espanhol a um senador, refere-se que “o Ministério para a Transição Ecológica não recebeu nem o estudo de impacto ambiental, nem o arquivo de informações públicas para o início da fase ordinária de avaliação ambiental”.
A Berkeley pretende também abrir uma mina em Retortillo, situada a cerca de 40 quilómetros da fronteira portuguesa, projeto que inclui ainda uma fábrica de processamento de urânio, que Matos Fernandes espera que não avance.
“Tudo concorre para que essa mina não seja explorada”, disse à Lusa, acrescentando que o projeto não teve uma avaliação de impacto ambiental transfronteiriça.
Pior que a mina seria a fábrica de processamento de urânio, um risco muito maior do que uma pedreira de onde se extrai minério”, mas se não houver mina, não fará sentido existir uma fábrica.
“Esperamos uma muito boa notícia para a segurança ambiental dos portugueses que vivem junto da fronteira”, disse o ministro.
Sobre o seminário luso-belga organizado a propósito da visita dos monarcas belgas a Portugal, Matos Fernandes afirmou que ambos os países estão preocupados com o setor da construção, em que falta muito para se aplicarem os princípios da economia circular.
“É o setor da economia onde são precisos mais quilos de materiais para produzir um euro de valor” e é um setor com o qual a Bélgica, onde o espaço para construir mais é escasso, está preocupada e ambos os países “podem fazer muito em conjunto”, disse.
Em Portugal, com dez milhões de habitantes e sem previsões de aumento da população, existe “um parque construído e um banco de materiais que satisfaz em 90% as necessidades de materiais no futuro”.
“O aço e a pedra já foram extraídos uma vez, não precisam de ser outra vez”, afirmou Matos Fernandes, reconhecendo que mudar a maneira de fazer as coisas “é para anos”.