António Salgueiro, engenheiro florestal, coordenou durante os últimos cinco anos o Grupo de Análise e Uso do Fogo, que utiliza manobras de fogo no combate aos grandes incêndios. De acordo com o Público é dos maiores especialistas em fogos florestais e em entrevista destaca que “menos dinheiro pode ser uma óptima oportunidade”. O responsável justifica “porque o que tem faltado no combate aos incêndios, em Portugal e na Europa, é trabalhar com racionalidade”. Para António Salgueiro “é preciso estratégia, com formação aprofundada dos principais actores nos incêndios florestais. Se calhar temos meios de combate a incêndios que, em termos relativos, mais nenhum país do mundo tem. Com menos verbas, é tempo de começar a pensar que é com inteligência, e não com mais meios, que se resolve este problema”. O responsável alerta ainda que “temos frequentemente incêndios que ultrapassam a capacidade de extinção. Não há meio nenhum, por mais meios que tenhamos, que resolva o problema. Temos de ser suficientemente racionais para guardar reservas nessas circunstâncias e deixar o incêndio evoluir, para quando tivermos capacidade de o superar, estarmos todos prontos”. Para António Salgueiro, “enquanto nos preocuparmos mais com as decisões politicamente correctas, em vez das decisões estrategicamente correctas, vamos sempre perder muitos incêndios florestais”. De acordo com o responsável: “Uma possibilidade que temos para mudar alguns procedimentos é separar incêndios periurbanos dos incêndios florestais, mas o politicamente correcto leva-nos, sempre que haja alguma habitação ou aldeia em perigo, a concentrar todos os meios em defesa dessa habitação ou aldeia e a descurar o incêndio florestal. E sempre que descuramos o incêndio florestal, a probabilidade de virmos a ter aldeias e populações em perigo vai sempre aumentando. Com a mistura de zonas habitacionais no espaço florestal no Norte e Centro de Portugal, provavelmente vamos precisar de ter duas estratégias diferentes para os incêndios. E meios perfeitamente divididos: quem faz a protecção de pessoas e bens e quem não sai do incêndio florestal”.