O estudo “Stepping up”, publicado esta quinta-feira pelo Carbon Disclosure Project (CDP), revela que apenas 49% das empresas europeias tem em vigor um plano de transição climática para limitar o aquecimento de 1,5 °C.
No entanto, de acordo com a análise, que compreende “cerca de 75% dos mercados bolsistas europeus”, menos de 5% dessas empresas revelam ter ambições alinhadas com a meta de aquecimento global máximo de 1,5 °C, ao mesmo tempo que apresentam indicadores favoráveis a essa mudança.
“O estudo mostra que a maioria dos planos carece de ambição e transparência em áreas-chave, tais como a governação, o planeamento financeiro, e o envolvimento na cadeia de valor”, pode ler-se num comunicado enviado pelo CDP à imprensa.
Segundo o estudo, as empresas consideradas “em desenvolvimento” rondam os 30 a 45% do total analisado. Essa classificação representa, segundo os parâmetros definidos, as empresas que apresentam transparência e ambição suficientes para que possam contribuir para um aumento do aquecimento global abaixo dos de 2 °C – uma meta menos desejada, ainda assim considera na análise.
Cerca de 50 a 65% das empresas mostram-se “limitadas” quando a assumirem qualquer tipo de compromisso: não mostram disponibilidade nem histórico que ajudem a evitar o aumento da temperatura abaixo das metas apresentadas.
A nível nacional, o estudo verificou que as empresas portuguesas têm um desempenho ligeiramente melhor que a média europeia. 6% das empresas nacionais são consideradas “avançadas” no que toca à ambição e às medidas a praticar para atingirem um aumento da temperatura global inferior a 1,5 °C.
49% das empresas portuguesas estão classificadas “em desenvolvimento”.
O relatório também mostrou que, embora 9 em cada 10 empresas tenham revelado interesse em reduzir as emissões, são encontradas lacunas graves nas medidas necessárias para impedir um aumento de 1,5 °C da temperatura terrestre.
“Apenas 26% avaliam até que ponto as despesas ou receitas se alinham com as metas de 1,5 °C, e menos de 40% estão a levantar preocupações climáticas nos contactos com os fornecedores”, considera o CDP como exemplos, no comunicado.
Desta forma, o relatório estima que quase 40% da dívida empresarial total das empresas analisadas, que ronda os 1,8 triliões de euros, financie atualmente aquelas que não têm objetivos claros ou provas do desenvolvimento de planos de transição credíveis.
Mas o acesso ao financiamento pode tornar-se cada vez mais desafiante. O estudo do CDP descobriu que “os bancos procuram atingir objetivos líquidos zero através da descarbonização dos seus empréstimos”. Segundo os dados, 8 em cada 10 instituições financeiras já estão a avaliar os clientes com base na sua estratégia ambiental.
Para complementar a análise, o relatório do CDP incluiu ainda dados de “áreas de ação chave” como a biodiversidade, a desflorestação e a segurança da água. Segundo os resultados, “apenas 7% das empresas reportaram um forte objetivo de reduzir as emissões, o consumo de água e a desflorestação, enquanto 39% revelaram um compromisso público em vigor relativo à biodiversidade”.
O CDP considera que “falta também incentivar as administrações das empresas a atingir objetivos”. Em 54% das empresas analisadas, está patente uma correlação direta entre o desempenho ambiental e o desempenho financeiro, com mais de dois terços a colocar o ambiente em segundo plano.
Em questões de transparência, o CDP nota, “de forma positiva”, que 71% das empresas que colaboraram no estudo “já comunicam estes dados no seu relatório anual de gestão para investidores”, principalemente sobre alterações climáticas, desflorestação e segurança hídrica, mesmo apesar de a lei europeia ainda não exigir a apresentação deste tipo de informação.