Naquilo que constitui uma atualização dos recordes verificados no final de abril, durante 59 dias (de 14 de março a 11 de maio) não se usou carvão em Portugal para produção de eletricidade. Nenhuma das duas centrais térmicas de Sines e Pego esteve a funcionar, sendo que a central de Sines já não produz energia elétrica desde há 129 dias (desde 26 de janeiro, inclusive), revela a associação Zero. Tal conduziu a uma redução inédita e sem precedentes das emissões de gases com efeito de estufa em Portugal, pode ler-se na mesma nota. Recorrendo aos dados das Redes Energéticas Nacionais (REN) relativos aos meses de março, abril e maio de 2020 e à comparação com o período homólogo de 2019, a Zero calculou um decréscimo de emissões superior a 1,4 milhões de toneladas de toneladas de dióxido de carbono, mais precisamente 370 mil toneladas em março, 590 mil toneladas em abril e 475 mil toneladas em maio.
Nestes três últimos meses verificou-se também um aumento de 15% de fontes renováveis na produção de eletricidade em comparação com o período homólogo de 2019, passando de 60% para 75%. Deve ainda considerar-se como relevante a quebra no consumo de eletricidade que atingiu 13% comparando o mês de maio de 2020 com o mês de maio de 2019.
No mês de maio houve apenas cinco dias com funcionamento da central a carvão do Pego e houve oito dias onde toda a produção de eletricidade teve lugar sem recurso a qualquer central térmica de grande capacidade, a carvão ou gás natural.
Neste quadro, a associação ambientalista estima que as emissões médias diárias de CO2 associadas à produção nacional de eletricidade tenham recuado de 28 mil toneladas por dia no total dos meses de março a maio de 2019 para 12 mil toneladas por dia no total dos mesmos meses este ano.
A Zero aproveita para contextualizar que a pandemia de Covid-19 tem alguma influência nestes resultados dada a maior oferta de eletricidade em países próximos (principalmente Espanha) devido às quebras de consumo, fornecida assim a preços mais reduzidos, conduzindo a maiores volumes de importação. Ao mesmo tempo, os custos do carvão versus gás natural, os custos associados às emissões (quer via o preço das licenças de emissão de carbono à escala europeia, quer da taxa de carbono e do imposto sobre os produtos petrolíferos à escala nacional), e a competitividade e disponibilidade de outras alternativas, em particular da eletricidade de fontes renováveis, têm conduzido à paragem quase total das centrais mais ineficientes a carvão de Pego e Sines.
Fim anunciado das centrais a carvão está na prática a ter lugar
O fim anunciado em outubro passado das centrais a carvão num futuro próximo (Pego em 2021 e Sines em 2023) está na prática a ter lugar, refere a Zero. Estas duas centrais são responsáveis por uma quantidade muito significativa das emissões de carbono do nosso país. Apesar dos equipamentos de despoluição, as centrais a carvão de Sines e Pego são fontes emissoras significativas de diversos poluentes como os óxidos de azoto, dióxido de enxofre, partículas e metais pesados. A central de Sines já terminou em 2019 o seu tempo de vida previsto de 30 anos, contado a partir da entrada em funcionamento do último grupo electroprodutor em 1989, de um total de quatro (o seu primeiro grupo entrou em funcionamento em 1985). No caso da Central do Pego, o primeiro grupo entrou em serviço em 1993 e o segundo em 1995, mas as condições contratuais são atualmente desfavoráveis do ponto de vista de rentabilidade, ao ponto de justificar o seu encerramento já em 2021.
As atuais paragens das centrais do Pego e de Sines mostram que é possível a sua retirada do sistema sem pôr em causa a segurança do abastecimento de eletricidade no país. A associação considera porém que é fundamental realizar os dois investimentos propostos pela REN, nomeadamente na construção de linhas para a região Sul, os quais já se encontram previstos no Plano de Desenvolvimento e Investimento da Rede Nacional de Transporte.
Os investimentos para a produção de eletricidade a partir de fontes de energia renovável conseguirão assegurar uma fração progressivamente significativa da geração de eletricidade, com custos mais reduzidos para o consumidor e sem emissões diretas de gases de efeito de estufa.
As centrais térmicas existentes de ciclo combinado a gás natural (Ribatejo, Pego, Lares e Tapada do Outeiro) têm permitido substituir o fornecimento de eletricidade das centrais a carvão com muito menores emissões de carbono.
A Zero aproveita para lembrar a necessidade de um plano de promoção de atividades económicas ligadas à urgente transição energética que possa fortalecer a vitalidade económica e social das regiões onde se inserem as centrais. Tal deverá ser assegurado pelas empresas em causa, ao abrigo da sua responsabilidade social, e elaborado com a participação ativa dos trabalhadores e suas organizações, das autarquias locais, de organizações não-governamentais e das demais entidades competentes.