Melhoria da qualidade ecológica dos rios pode não se refletir na recuperação da biodiversidade, diz estudo
Um estudo internacional, com a participação de Maria João Feio, investigadora do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), publicado na Nature Ecology & Evolution, concluiu que o progresso observado na qualidade ecológica de alguns rios europeus, entre 1990 e 2010, não se reflete consistentemente na melhoria da biodiversidade, medida pela riqueza das espécies.
“A riqueza de espécies é uma métrica que, em geral, traduz impactos antropogénicos dos rios. No entanto, à escala europeia, observamos respostas mistas, como situações em que o aumento da riqueza não se traduz necessariamente numa melhor qualidade ecológica”, explica Maria João Feio, coautora do estudo, revelando que «tal pode acontecer quando há, por exemplo, um aumento de espécies tolerantes e também de espécies não nativas, que levam a um aumento da riqueza, mas refletem degradação antropogénica”.
Por esta razão, a docente considera “necessário investir numa monitorização regular e padronizada das comunidades aquáticas dos rios (bioindicadores), por peritos, que contemple uma boa identificação das espécies de invertebrados, a análise detalhada de um grande conjunto de métricas e aspetos da composição das comunidades, abundâncias de cada espécie, assim como as suas funções no ecossistema, para que mais tarde, seja possível examinar de forma efetiva como evoluíram as comunidades em função dos efeitos das alterações antropogénicas, climáticas ou medidas de recuperação”.
Nesta investigação, após a organização de uma base de dados comum à escala europeia, foram analisadas 1.365 comunidades de invertebrados aquáticos de mais de duas dezenas de países europeus.
“Estudámos a evolução das alterações antropogénicas ao longo do tempo, usando diferentes métricas, que são normalmente utilizadas para avaliar a biodiversidade e a qualidade ecológica dos rios, nomeadamente a abundância, riqueza de taxa (ou espécies), equitabilidade ou composição das comunidades e índices de qualidade biológica (Rácios de Qualidade Ecológica), estes últimos padronizados na Comunidade Europeia e usados pelas agências oficiais do ambiente e água na monitorização dos rios”, conclui a investigadora.