O futuro será com menos água e as previsões apontam para uma redução de 15% da precipitação em Portugal. Até ao final do século estima-se que essa redução seja de até 25%. É com base nestas estimativas de “alteração do padrão de precipitação” que Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Alteração Climática, reforçou a necessidade de “sermos frugais” no uso da água: “A água tem de ser poupada em casa, preservada nas principais fontes e usada de forma regrada em todos os usos, seja na agricultura, seja no consumo industrial e devolvida em bom estado aos rios e ao mar”.
Na conferência “O Caminho da Inovação”, promovida esta terça-feira, 4 de outubro, pela Águas do Tejo Atlântico, o ministro do Ambiente reiterou, ainda, a importância de se “reutilizar” a água e aproveitá-la para finalidades que não exijam a sua potabilidade: “Temos que cooperar, divulgar conhecimento e tecnologia e usar a água de forma justa em geografias onde ela escasseia”.
Apesar dos desafios, o dirigente lembrou aquele que tem sido o caminho do setor, permitindo que, hoje, seja possível contar uma história de sucesso: “Para que a água de elevada qualidade esteja hoje disponível foram investidos 13 mil milhões de euros num compromisso do país juntamente com municípios, autarcas, poder central, operadoras e empresas”. Em 25 anos, o paradigma deste setor alterou-se radicalmente: “99% da água potável é controlada e cumpre todos os requisitos legais; as águas balneares têm excelente qualidade; e as doenças associadas a problemas de saneamento básico desapareceram do radar da saúde pública”, exemplifica.
Este é um “compromisso” que continua a fazer parte de todo o setor: “Estamos a transformar as águas residuais em modernas fábricas de recuperação de recursos e, graças à capacidade deste setor temos um ambicioso programa de utilização de água reciclada para usos não potáveis”. A título de exemplo, o ministro do Ambiente destaca que “até 2025, temos a expectativa de que 10% das águas que saem das estações de tratamento de águas residuais possam ser aproveitadas para esses fins e pretendemos duplicar esse objetivo até ao final da década”.
Para Duarte Cordeiro, há uma “enorme expectativa” em torno do setor da água, não só pela história, mas também, pelos desafios que a Europa enfrenta, nomeadamente, a seca que se faz sentir em muitos países que até então nunca tinha vivenciado: “A confirmarem-se as previsões e a manutenção da situação de escassez nos próximos meses é fundamental acautelar as disponibilidade hídricas e gerir de forma contínua e coordenada as afluências e libertação de caudais, pois vivemos uma situação de stress hídrico muito fruto de este ser o segundo pior ano de seca desde 1931”.
A tudo isto soma-se o “contexto de emergência climática” que obriga à necessidade de se “melhorar a governança” do recurso a nível local, regional, local e transnacional: “É um dos nossos maiores desafios”, alerta.
Citando os recentes dados do World Research Institute, o chefe da pasta do Ambiente atenta que “as crises de água estão entre os cinco principais riscos globais para o planeta”, que “90% do que vão ser os desastres climáticas estão relacionados com a água” e, que “90% da economia e 75% dos empregos estão relacionados com água”. Face aos desafios, Duarte Cordeiro não deixa de lembrar aquela que foi a “história de sucesso” do setor da água, acreditando que o futuro deve ser visto com confiança: “A água exige uma agenda política clara, reflexão, concertação e negociação. Mas, também, exige ação e que essa ação seja compreendida pela população, permitindo que todos saibamos o caminho que devemos seguir”.