De acordo com um estudo “Como os bancos estão a responder aos riscos financeiros das alterações climatéricas” partilhado à imprensa pela Mazars, “três quartos dos bancos analisam os riscos financeiros das alterações climáticas e têm políticas para reduzir a participação em setores de uso intensivo de carbono”. No entanto, o mesmo estudo comprova que a “informação é imprecisa e há uma lacuna entre os grandes bancos e os de menor dimensão na consideração destes riscos”
Numa altura em que a Comissão Europeia reafirma os princípios de sustentabilidade financeira a longo prazo, a regulação será mais exigente e o setor financeiro terá um papel decisivo.“A Mazars em Portugal é cada vez mais reconhecida como uma mais valia neste exigente mercado, centrando parte da sua atuação no futuro dos serviços financeiros e colaborando com os seus clientes na transformação dos seus negócios e execução das suas estratégias”, diz Luís Gaspar, managing partner da Mazars em Portugal.
A estratégia da Mazars pretende “acompanhar as rápidas e permanentes mudanças no mercado, a Mazars em Portugal continua a apostar no crescimento, alinhado com um espírito global de parcerias para alicerçar o seu projeto de desenvolvimento e a sua perspetiva de equilíbrio e visão sustentável”, acrescenta o responsável.
O relatório da Mazars segue-se à publicação “Renewed Sustainable Finance Strategy”, da Comissão Europeia, que torna claro que a pandemia não adiou os objetivos de sustentabilidade a longo prazo na Europa. De facto, a agenda de sustentabilidade financeira da União Europeia (UE) será um “fator crucial para a recuperação económica na resposta à Covid-19 e o setor financeiro terá um papel decisivo para a mobilização do capital necessário”, refere a empresa.
Baseado em informação pública disponível, o relatório foca-se em até que medida os principais bancos integraram as alterações climatéricas nas suas áreas de governance, gestão de risco, análise e divulgação de cenários, e o seu nível de prontidão para o recente e previsível aumento de supervisão relacionada com o tema.
Um survey da Mazars e do OMFIF (Official Monetary and Financial Institutions Forum) a 33 bancos centrais, divulgado em fevereiro, revelava que “70% dos mesmos considerava a questão das alterações climatéricas uma grande ameaça à estabilidade financeira”. Apesar da ameaça “não estar ainda evidenciada nas ações dos bancos centrais para a revisão das abordagens de supervisão, o survey revelava clareza no caminho a seguir”, diz a empresa.
Segundo esta entidade, as instituições financeiras e os investidores deverão “preparar-se para uma regulação mais exigente a nível de ações relacionadas com as alterações climáticas e critérios de sustentabilidade ambientais, sociais e de governance”.
“A epidemia da Covid-19 coloca em evidência a necessidade de lidar com os riscos de sustentabilidade e melhorar a resiliência comunitária. As alterações climatéricas são uma ameaça à estabilidade e segurança financeira e à solidez das empresas financeiras. À luz da crescente atenção regulatória, os bancos são agora encorajados a comportar riscos relacionados com o clima nas suas operações de negócio e enquadramento de gestão de riscos”, afirma Leila Kamdem-Fotso, partner – financial services – London, United Kingdom da Mazars.
Governance
De acordo com o estudo, 77% os bancos analisados têm os riscos relacionados com o clima verificados pelos conselhos de administração através das suas subcomissões; 43% criaram grupos de trabalho multifuncionais sobre alterações climatéricas e Task Forces para análise da divulgação financeira relacionada com as alterações climatéricas (TCFD – Task Force on Climate-related Financial Disclosures).
Os principais modelos de organização adotados pelos bancos para abordar os riscos e oportunidades relacionados com o clima são: Equipas de Responsabilidade Social Corporativa a nível central e Equipas multifuncionais (sustentabilidade, risco e linhas de negócio).
Gestão de Risco
O relatório revela que quase metade dos bancos que fizeram parte da amostra reconhece a relevância dos riscos associados às alterações climatéricas, tanto as físicas como as de transição.
No entanto, neste momento, o seu principal foco é a medição dos riscos de transição no risco de crédito. As metodologias para avaliar os riscos físicos parecem estar ainda numa fase embrionária, acima de tudo devido à falta de informação, quer sobre o nível de bens e investimentos dos clientes, quer sobre a capacidade e competência para esta dentro dos próprios bancos.
Para a maioria das instituições bancárias, a avaliação dos riscos financeiros relacionados com o clima é mais qualitativa do que quantitativa e foca-se principalmente na identificação dos setores de risco elevado. 73% dos bancos analisados implementaram políticas de exclusão com o objetivo de reduzir o seu envolvimento nos setores de uso de carbono intensivo.
Transparência
Existe um consenso alargado acerca do enquadramento TCFD e 43% dos bancos analisados começaram a divulgar dentro deste enquadramento.
No entanto, a informação relacionada com o clima ainda não é revelada de forma comparável e nem sempre está disponível nos principais relatórios (obrigações financeiras anuais). A investigação da Mazars revelou uma lacuna entre os bancos maiores e os de menor dimensão. Há uma falha generalizada de pormenor e consistência na informação que é neste momento revelada: os bancos mais pequenos não apontam as alterações climatéricas como uma fonte de risco financeiro.
Análise de cenários
As análises de cenário aparentam ser a componente mais desafiante da gestão de risco relacionado com as alterações climatéricas. Mais de metade dos bancos analisados utilizam análise de cenários, mas ainda em modo experimental, enquanto esperam por metodologias e ferramentas mais testadas para melhorar a sua performance. De acordo com o relatório, há falta de informação comparável e de qualidade ao nível do setor e dos clientes e dificuldades com a modelação dos impactos das alterações climatéricas.